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“A tragédia grega não é um jogo, senhor Schulz!”

Zoe Konstantopoulou

Antes de se abster na votação de sexta-feira, a presidente do Parlamento da Grécia escreveu uma carta ao presidente do Parlamento Europeu. Zoe Konstantopoulou pede a Martin Schulz que respeite a democracia e se abstenha de fazer ameaças ao povo grego, como aconteceu antes e depois do referendo. E diz que se Schulz defende agora uma ajuda humanitária à Grécia, é porque tem consciência que o corte de financiamento do BCE aos bancos gregos põe em causa a sobrevivência das pessoas.

Na carta enviada no dia 7 de julho pela presidente do Parlamento da Grécia, Zoe Konstantopoulou chama a atenção para as “interferências externas” no processo democrático grego, com as pessoas a irem votar com os bancos fechados, após o BCE ter decidido não aumentar a sua liquidez dos bancos, ou com os responsáveis europeus a fazerem declarações públicas “que falseavam grosseiramente a pergunta do referendo ou pediam a sua anulação”.

“Como sabe, a pergunta do referendo nunca foi sobre ficar ou sair da União Europeia ou da zona euro, mas explicitamente sobre a aceitação ou rejeição das propostas apresentadas a 25 de junho de 2015, em forma de ultimato”, prossegue Konstantopoulou. A divulgação a poucos dias do referendo de um relatório do FMI sobre a sustentabilidade da dívida grega, que contrariava a análise então entregue pelo Eurogrupo ao governo de Atenas, “confirmou que a sua rejeição pelo governo e pelo povo foi acertada”, conclui a presidente do parlamento.

“Peço-lhe que tenha a bondade de se abster de fazer declarações como as que fez nos últimos dias, tanto antes como depois do referendo, a sugerir que o voto negativo às medidas antissociais abre caminho e ações punitivas contra o povo grego”, diz Zoe Konstantopoulou a Martin Schulz.

Quanto às declarações de Martin Schulz admitindo a necessidade de um plano de ajuda humanitária para a Grécia, a presidente do parlamento grego diz que elas indicam que ele “tem consciência de que a própria sobrevivência do povo grego está em risco por causa da recusa do BCE em garantir liquidez” ao sistema financeiro do país.

Boa parte da dívida grega é “ilegítima, ilegal, odiosa e insustentável”.

“A tragédia grega não é um jogo e não pode ser separada dos enganos consecutivos, cálculos falhados, e erros gritantes dos credores da Grécia, que já foram reconhecidos publicamente. Vitimizar uma população como forma de compensar esses erros é uma situação intolerável, que contradiz os princípios europeus”, acrescenta a presidente do parlamento grego, desafiando Martin Schulz a dar um contributo para ultrapassar esta crise e assegurar o respeito pela democracia”.

Zoe Konstantopoulou refere ainda nesta carta que as medidas impostas pelos memorandos nos últimos violaram normas constitucionais e a lei internacional e resultaram numa crise humanitária sem precedentes, com inúmeras violações dos direitos humanos fundamentais.

A acompanhar a carta, Konstantopoulou enviou também o relatório preliminar da Comissão para a Auditoria e Verdade da Dívida, que ouviu especialistas internacionais e antigos responsáveis gregos envolvidos nas negociações com a troika, concluindo que boa parte da dívida grega é “ilegítima, ilegal, odiosa e insustentável”.