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“Planos B” de Lafazanis e Varoufakis animam a imprensa grega

Depois dos gregos não se terem entusiasmado com o relato da imprensa sobre o “plano B” de Lafazanis para sair do euro, este fim de semana foram publicados detalhes do “plano B” de Varoufakis, uma versão eletrónica de moeda paralela, confirmada pelo próprio.


A seguir a Alexis Tsipras ter justificado a assinatura do acordo por não lhe terem sido apresentadas alternativas à chantagem que evitassem a bancarrota descontrolada, a Plataforma de Esquerda organizou uma sessão aberta num hotel em Atenas, com centenas de pessoas a quererem discutir os próximos passos em resposta à decisão política que diziam pôr em causa o resultado do referendo.

Nessa sessão a 14 de julho, apresentada no dia seguinte pela imprensa alemã como uma “reunião secreta”, o então ainda ministro da Energia atacou a decisão da maioria do governo em aceitar a imposição de Bruxelas e Berlim – Lafazanis abster-se-ia no dia seguinte na votação do primeiro pacote de medidas prévias exigidas pelos credores – e quis deixar claro aos seus apoiantes que ele tinha uma alternativa.

O plano de Lafazanis que Tsipras não aceitou passaria por usar os 22 mil milhões de euros detidos pelo Banco da Grécia enquanto o processo de emissão de nova moeda não estivesse concluído. Nos dias seguintes, novas versões do encontro já falavam de “assalto aos cofres” por parte da extrema-esquerda e até na prisão do governador do banco central – o ex-ministro das Finanças da troika, Yiannis Stournaras – caso ousasse de alguma forma resistir às ordens do governo.

Lafazanis foi afastado do governo após votar contra as medidas que conduzem ao terceiro memorando e o Financial Times voltou este fim de semana a “reacender” a história, com os mesmos dados que a imprensa grega tinha revelado dez dias antes. Alexis Tsipras chegou mesmo a ridicularizar os planos defendidos pelos dois ex-ministros, ao sugerir que os opositores fossem explicar ao país que a solução era “assaltar o stock de notas ou pagar aos reformados em IOU’s”…

O plano de Varoufakis: Hackear o software da troika e pôr os telemóveis a usar moeda eletrónica

Este fim de semana surgiu no diário Ekathimerini outro “plano B” que supostamente o Syriza tinha na manga mesmo antes de ir para o governo. Soube-se pela boca de Yanis Varoufakis, que decidiu contá-lo a uma plateia de investidores institucionais e privados. O ex-ministro das Finanças confirmou que tinha uma equipa de cinco pessoas a trabalhar com o seu gabinete para a criação de um sistema paralelo de liquidez, que pudesse ser ativado de forma instantânea em caso de tentativa de asfixia financeira do país, como veio de facto a suceder, e que permitiria também em último caso uma transição para uma nova moeda.

Tsipras nunca deu a luz verde para a execução do plano – que para ser concretizado iria necessitar de mil funcionários em vez de cinco – nem mesmo depois do referendo, quando Varoufakis foi derrotado no governo, ao defender a escalada do conflito com os credores, apoiando-se nos 61% do “Oxi”.

O plano de Varoufakis passava por entrar na rede informática do sistema da receita fiscal – cujo secretário-geral diz estar “controlado pela troika” [e não o próprio software informático, como traduziu erradamente o Ekathimerini] – e ter acesso às contas e dados fiscais de todos os contribuintes. Dessa forma, “apenas carregando num botão”, o ministério das Finanças podia transferir digitalmente notas promissórias (os IOU), acompanhadas por um código para que o destinatário (empresa ou contribuinte individual) pudesse usar esse valor em euros para os seus pagamentos. Varoufakis acredita que o sistema tinha potencial para se espalhar rapidamente, nomeadamente através das aplicações para telemóvel que serviriam para facilitar as transações.

O ex-ministro das Finanças confirmou ao diário britânico Telegraph que as citações que lhe atribuem desse encontro com investidores estão exatas, mas diz que a imprensa está a distorcê-las para tentar provar que ele defendia a saída do país do euro, posição que sempre combateu. “Distorcem totalmente a minha posição para parecer que eu queria um sistema de liquidez paralela. Eu sempre fui totalmente contra desmantelar o euro porque não se sabe que forças obscuras isso pode libertar na Europa”, afirma.

“O contexto de tudo isto é que eles querem apresentar-me como um ministro enganador e acusar-me de traição. Faz tudo parte da tentativa para anular os primeiros cinco meses deste governo e enfiá-los no caixote do lixo da história”, acrescentou Varoufakis ao Telegraph. Existem já duas ações judiciais interpostas contra Varoufakis, acusando-o de “alta traição” devido à sua conduta durante o processo negocial. Um advogado e um líder de um partido extraparlamentar são os autores das queixas, que estimam em milhares de milhões de euros o prejuízo causado às finanças do pais durante os cinco meses do mandato de Yanis Varoufakis.

Entre os excertos revelados da comunicação de Varoufakis aos investidores em Londres está o relato da dificuldade de um dos membros desta “equipa secreta” – um seu amigo de infância que foi buscar à Universidade norte-americana de Columbia – em entrar no software do sistema fiscal, cujo responsável é controlado “completa e diretamente pela troika”: “É como se a administração fiscal do Reino Unido fosse controlada por Bruxelas. Tenho a certeza que estão a ouvir estas palavras com os cabelos em pé”, ironizou Varoufakis. Ouça aqui a intervenção do ex-ministro das Finanças, que autorizou a sua divulgação:

 

Nota: O som da intervenção de Yanis Varoufakis desmente as notícias publicadas que o citavam como tendo dito que o software da máquina fiscal era controlado pela troika, o que provocou escândalo e polémica na Grécia. Mas o que o ex-ministro realmente diz é que o Secretário-Geral da Receita Fiscal é controlado “completa e diretamente pela troika”, e não o software do fisco. Esta notícia também foi corrigida tendo em conta esse elemento.

https://twitter.com/IrateGreek/status/625690229412900866