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Direita grega continua à espera de líder

Vangelis Meimarakis. Foto Nova Democracia/Flickr

Depois do apagão informático que anulou as eleições de novembro para a liderança da Nova Democracia, a nova tentativa deste domingo resultou na vitória do anterior líder interino Vangelis Meimarakis, que disputará a segunda volta a 10 de janeiro com o ex-ministro Kyriakos Mitsotakis.


Artigo de Ricardo Cabral Fernandes, em Salónica.


Meimarakis foi o vencedor das eleições do passado domingo com 39,8% (160,823 votos), enquanto os outros candidatos ficaram baixo da fasquia dos 30%. Kyriakos Mitsotakis obteve 28,5% (115,162 votos), Apóstolos Tzitzikostas 20,3% (82,028 votos) e Adonis Georgiadis 11,4% (46,065 votos). Pelo facto de nenhum dos candidatos ter alcançado mais de 50% irá realizar-se uma segunda volta entre Meimarakis e Mitsotakis a 10 de Janeiro de 2016.

A disputa entre os quatro candidatos à liderança do partido alcançou um novo nível de animosidade com o cancelamento das eleições internas, marcadas para 22 de Novembro, devido a um problema informático. Rapidamente os candidatos culparam Meimarakis, o líder interino, pela falha, acusando-o de incompetência. As eleições foram remarcadas e ocorreram no passado domingo, 20 de Dezembro. Mais de 400 mil militantes do Nova Democracia dirigiram-se às urnas para escolher o seu novo presidente, o que se traduz num aumento significativo de afluência em comparação com actos eleitorais anteriores. As mesas de voto tiveram de prolongar o seu funcionamento por mais de uma hora em consequência da afluência, mas também pela ocorrência de um erro informático que bloqueou o acto eleitoral durante 30 minutos.

Na madrugada desta quarta-feira os resultados das eleições foram finalmente divulgados. Yannis Tragakis, Presidente do Comité Eleitoral, anunciou-os entre o descontentamento algo generalizado de muitos militantes pelos três dias de atraso por no passado o Comité Eleitoral ter anunciado que os resultados seriam divulgados na madrugada de segunda-feira. Como justificação para este atraso, Tragakis defendeu que os estatutos do partido estipulam que todas as mesas de voto devem enviar os respectivos resultados para a sede nacional via fax.

Quem são os candidatos à liderança da Nova Democracia

Com a estrondosa vitória do “Não” no referendo de 25 de Julho, Antonis Samaras, líder do Nova Democracia, o principal partido da direita grega e que apoiou o “Sim”, demitiu-se do cargo que ocupava desde 2009. Tendo em conta a situação política grega pós-referendo o principal órgão do Nova Democracia decidiu nomear Vangelis Meimarakis, membro da “velha guarda” do partido, como Presidente Interino. Isto é, com a assinatura de um terceiro memorando e a possibilidade de serem marcadas eleições legislativas antecipadas em consequência de uma revolta de alguns deputados do Syriza, não existiam condições para que fosse realizado um congresso que elegesse novos órgãos partidários, incluindo a Presidência. Neste sentido, com a marcação de eleições legislativas para 20 de Setembro de 2015, Meimarakis viu-se obrigado a disputar as eleições com Alexis Tsipras. A vitória do Syriza, mesmo sem este ter alcançado a maioria absoluta, veio fragilizar ainda mais o Nova Democracia como um todo, criando uma intensa disputa pela liderança do partido. Apresentaram-se quatro candidatos: Vangelis Meimarakis, Adonis Georgiadis, Kyriakos Mitsotakis e Apostolos Tzitzikostas.

Vangelis Meimarakis foi um dos fundadores da ONNED, a juventude partidária do ND, tendo também sido eleito deputado em 1989, após cinco anos como Presidente da juventude. Em 1992 foi nomeado Ministro da Cultura e em 2006 Ministro da Defesa, além de em 2012 ter sido eleito presidente do parlamento helénico. No seio do partido Meimarakis representa a velha guarda, tendo desde a fundação do partido estado nas mais altas esferas do partido com Kostantino Karamalandis e, mais recentemente, Antonis Samaras.

Kyriakos Mitsotakis representa a ala mais neoliberal no seio do Nova Democracia. Foi fortemente influenciado pelas ideias do seu pai, Konstantinos Mitsotakis, ex-primeiro ministro (1990-93), chefe de um dos governos mais neoliberais da História grega no período pré-crise, e pelos seus estudos em Harvard. Após 10 anos no sector privado decidiu entrar na vida política nas eleições de 2005, tendo conseguido entrar no parlamento. Manteve-se como deputado nas eleições legislativas seguintes e, em 2013, foi nomeado Ministro da Reforma Administrativa.

Apostolos Tzitzikostas demarcou-se dos outros candidatos por actualmente não exercer o cargo de deputado – é governador da Região da Macedónia Central – e por ser o mais novo. Na sua eleição regional foi apoiado pelo LAOS, ANEL e EPAL. Estudou na Universidade de Georgetown e no University College of London. Foi eleito duas vezes, em 2007 e 2009, para o parlamento helénico.

Adonis Georgiadis é publicamente conhecido pelo seu comportamento espalhafatoso e por ter vendido livros através da televisão de uma forma politicamente incorrecta. É um confessado conversador de direita que defende efusivamente os valores da família e a religião ortodoxa. Em 2007 foi eleito deputado pela lista do LAOS, um partido de direita-radical. Cinco anos depois abandonou o partido para ingressar no Nova Democracia, tendo sido novamente eleito deputado nas eleições legislativas de 6 de Junho de 2012. Um ano mais tarde foi nomeado Ministro da Saúde, sendo um dos grandes responsáveis pela aplicação das medidas de austeridade no sector e que actualmente impedem um terço dos gregos ao acesso aos cuidados de saúde.