Leia aqui a carta publicada no Guardian por um conjunto de académicos a apelar à União Europeia que retome os princípios da democracia e ao povo grego que rejeite o ultimato dos credores.
Ao longo dos últimos cinco anos, a União Europeia e o FMI impuseram à Grécia uma austeridade sem precedentes. Ela fracassou totalmente. A economia encolheu 26%, o desemprego aumentou para 27%, o desemprego dos jovens para 60% e o rácio da dívida em relação ao PIB passou de 120% para 180%. A catástrofe económica conduziu a uma crise humanitária, com mais de 3 milhões de pessoas na ou abaixo da linha de pobreza.
Neste contexto, o povo grego elegeu, a 25 de janeiro, um governo liderado pelo Syriza, com um mandato claro para pôr fim à austeridade. Nas negociações que se seguiram, o governo deixou claro que o futuro da Grécia é na zona euro e na UE. Os credores, no entanto, insistiram na continuação da sua receita falhada, recusaram-se a discutir uma reestruturação da dívida – que o próprio FMI reconhece como sendo inviável – e, finalmente, a 26 de junho, emitiram um ultimato à Grécia através de um pacote inegociável que consolidaria a austeridade. Seguiu-se uma suspensão de liquidez aos bancos gregos e a imposição do controlo de capitais.
Nesta situação, o governo pediu ao povo grego que decidisse sobre o futuro do país num referendo a ser realizado no próximo domingo. Acreditamos que este ultimato à democracia e ao povo grego deve ser rejeitado. O referendo grego dá à União Europeia uma oportunidade de reafirmar o seu compromisso com os valores do Iluminismo – igualdade, justiça, solidariedade – e com os princípios da democracia sobre os quais assenta a sua legitimidade. O lugar onde nasceu a democracia dá à Europa a oportunidade de reassumir o compromisso com os seus ideais no século XXI.
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