Hollande foi a Atenas apoiar Tsipras contra os despejos

François Hollande e Alexis Tsipras. Foto no Twitter de Alexis Tsipras

O presidente francês fez uma visita oficial a Atenas ao mesmo tempo dos representantes dos credores que fazem a avaliação do memorando. E pôs-se ao lado do governo grego na defesa das famílias com dívidas aos bancos e na necessidade da renegociação da dívida. Em França, a esquerda acusa Hollande de ter ido ajudar as suas empresas na pilhagem da Grécia.


“É muito importante que os compromissos sejam encontrados, e que não se levantem dúvidas sobre os direitos fundamentais das famílias gregas – o direito a viverem sob um teto – e falo aqui dos despejos das primeiras habitações”, afirmou o presidente francês no seu discurso no Parlamento grego. Hollande defendeu ainda que quando a primeira avaliação do atual memorando estiver concluída, “a renegociação da dívida deverá ter início para aliviar o peso da dívida grega”.

Por seu lado, Alexis Tsipras insistiu que o país vai cumprir as obrigações inscritas no acordo que assinou, mas que tem os seus limites. “Uma coisa é cumprir as nossas obrigações, outra completamente diferente é achar que a Grécia está condenada a cumprir pena de prisão. Não está”, declarou o primeiro-ministro grego.

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O crédito malparado dos bancos gregos é o maior em percentagem de toda a Europa (35.6%) e está no centro de uma das grandes divergências entre o governo grego e os credores. Com a recapitalização dos bancos a ter de concluir-se até ao fim do ano, devido às regras europeias, e boa parte do crédito estar concedido a famílias afetadas pela crise e o desemprego, a penhora das casas e o despejo dos seus proprietários é uma exigência dos credores e da banca.

Tsipras tem repetido que não quer ver a Grécia sofrer despejos em massa e o governo tem defendido a proteção das primeiras habitações até 200 mil euros. Segundo a agência Reuters, os credores contrapõem 120 mil euros, o que cobriria apenas 17% dos casos das famílias em incumprimento com os bancos. Atualmente a lei de proteção contra despejos fixa em 300 mil euros o limite máximo da propriedade. Das cerca de 320 mil famílias com prestações em atraso no crédito à habitação, 130 mil recorreram ao mecanismo legal de proteção ainda em vigor.

Os ministros das Finanças dos dois países assinaram um acordo de cooperação para combater a burocracia na administração pública. Na assinatura do acordo, Tsakalotos contou a história de uma enfermeira que queria trabalhar noutra região do do país, mas precisava de conseguir sete assinaturas de entidades diferentes para o conseguir. Outros assuntos em discussão foram a cooperação bilateral na implementação do pacote Juncker na Grécia, a criação de investimento conjunto – público e privado – nos setores do turismo, agricultura, transportes e infraestruturas. O investimento conjunto nas economias emergentes na região balcânica e no Médio-Oriente foram outros assuntos.

Mélenchon diz que Hollande foi ajudar as grandes empresas francesas na pilhagem da Grécia

Em França, o líder da Frente de Esquerda acusou o Presidente francês de ter ido à Grécia negociar uma fatia das privatizações que Atenas se comprometeu a fazer nos próximos anos. Hollande fez-se acompanhar por uma comitiva com dezenasde empresários da área da saúde, energia, construção e novas tecnologias.

Mélenchon diz que algumas das grandes empresas presentes em Atenas, como a Vinci, Alstom e Suez, têm interesses em setores ligados à ferrovia e portos, aeroportos, auto-estradas, água e saneamento, que podem ser privatizados total ou parcialmente ou concessionados. “Os que extorquem somas indevidas em França na fatura da água ou nas portagens das auto-estradas esperam agora acumular mais lucros às custas do povo grego”, afirmou o eurodeputado Jean-Luc Mélenchon.