Esta semana Alexis Tsipras e o Arcebispo Jerónimo sublinharam ao almoço a boa relação entre o Estado e a Igreja na Grécia. O encontro surge numa altura em que o governo aprovou a introdução de crematórios no país e facilitou o processo para os estudantes serem dispensados do ensino religioso na escola pública. Uma sondagem publicada esta semana mostra uma Grécia dividida sobre o tema tabu da separação entre Estado e Igreja
O almoço de três horas entre o primeiro-ministro e o líder religioso grego serviu para discutir a cooperação no combate às consequências da austeridade. Alexis Tsipras afirmou que em tempos de crise há mais gente a recorrer à Igreja em busca de apoio económico e espiritual e reconheceu o trabalho humanitário desenvolvido pela Igreja da Grécia.
Fora da ementa deste almoço ficaram algumas das medidas que o governo tem em marcha e que encontraram oposição por parte da Igreja. Uma delas é o fim do processo que hoje obriga um estudante a declarar-se ateu ou a indicar a sua religião, caso não pretenda ter aulas de educação religiosa.
A nova vice-ministra da Educação, Sia Anagnostopoulou, defendeu após tomar posse que esta prática é um abuso e “foi um erro ainda não ter sido abolida, mas agora vamos acabar com ela”, em nome do respeito pela liberdade religiosa na escola.
Outra questão em suspenso há meses é a instalação de crematórios na Grécia, desde sempre contestada com vigor pela Igreja de Atenas. Até agora, havia uma proibição de facto, através das normas ambientais em vigor. O ponto de cremação mais próximo da Grécia é na capital búlgara, tornando o recurso à cremação só acessível a algumas carteiras.
Esta semana, o ministro do Ambiente e Energia Panos Skourletis assinou uma lei que faz depender a construção de crematórios do cumprimento das regras ambientais, não precisam de ficar junto a cemitérios e o seu licenciamento será feito ao nível municipal. Atenas e Salónica pedem desde há muito a possibilidade de instalar crematórios.
Igreja já está fora do controlo de capitais
Mas a última semana também trouxe também boas notícias para a Igreja. O governo decidiu retirar o controlo de capitais para instituições religiosas e de caridade, que até então só podiam levantar até 10 mil euros por mês, no caso das Igrejas Metropolitanas, ou 20 mil no caso da Arquidiocese.
A decisão provocou críticas do sistema mediático e das empresas sobre um favorecimento à Igreja, que respondeu dizendo que a medida se aplica àquelas instituições e não aos padres ou outras entidades a ela ligadas. Por seu lado, o governo esclareceu que o fim das restrições impostas pelo controlo de capitais também se aplica a instituições humanitárias internacionais, aos soldados, estudantes universitários, pessoas que sejam hospitalizadas no estrangeiro e seus acompanhantes.
A relação entre Igreja e Estado na Grécia passa também por leis que estabelecem que o pagamento dos salários dos padres é feito pelo Orçamento de Estado. Em contrapartida, o Estado dispõe das propriedades pertencentes à Igreja.
Sondagem mostra abertura da sociedade à separação entre Estado e Igreja
Uma sondagem do Instituto Bridging Europe, feita esta semana através de 1125 entrevistas telefónicas nas 13 regiões do país, aponta para 53% dos gregos favoráveis à separação entre Igreja e Estado. 39% dizem-se contrários e 11% não sabem ou não respondem à questão. Na faixa etária entre os 18 e os 35 anos, a percentagem dos que defendem a separação sobe para os 69%.
Questionados sobre o ensino religioso, 38% defenderam que deve ser obrigatório enquanto 49% preferem que seja facultativo. Nas áreas rurais, a percentagem favorável a obrigatoriedade das aulas de Religião sobe para 49%, enquanto na faixa 18-35 são 65% a defender que as aulas sejam opcionais.
47% dos inquiridos vê o discurso da Igreja sobre temas políticos interno ou externos como unificador da sociedade, enquanto 38% o aponta como estando a dividi-la. Quando a questão é sobre satisfação acerca do contributo da Igreja na resposta à chegada de refugiados, 45% dizem-se insatisfeitos e 31% estão satisfeitos. Apesar disso, prevalecem as opiniões positivas sobre o Arcebispo Jerónimo (67%) sobre as negativas (17%).
Cerca de dois terços dos inquiridos acreditam que o atual governo irá levantar o tema da separação entre Igreja e Estado, que tem sido um tabu na política grega nas últimas décadas. E apenas 10% dos entrevistados acreditam que a Igreja poderá sobreviver financeiramente se for separada do Estado.
#Poll: 53% in favor of state – church separation in #Greece – 49% #religion class "optional" http://t.co/PdhV4yaM5W pic.twitter.com/LW2y28h9Hp
— Bridging Europe (@BridgingEurope) October 16, 2015