Voluntários queixam-se de perseguição policial em Idomeni

Voluntários no acampamento de Ide Idomeni. Foto Aid Delivery Mission.

O governo grego tem acusado os grupos de voluntários estrangeiros no campo de refugiados de Idomeni de estarem na origem dos boatos sobre a reabertura da fronteira e instigarem os refugiados à revolta. Esta terça-feira, a polícia identificou 15 destes voluntários, incluindo um português.


 

Quinze pessoas foram detidas esta terça-feira para identificação durante um controlo policial à entrada do campo de refugiados de Idomeni. Segundo a polícia disse à imprensa, todos se identificaram como “voluntários” embora tenham dito não pertencer a nenhuma das ONG presentes no campo. Os detidos são originários de oito países – Alemanha (5), Reino Unido (2), Grécia (2), Suécia (2), Holanda, Áustria, República Checa e Portugal (1) – e foram libertados após identificação.

As cenas de violência ocorridas no passado domingo, quando um grupo de refugiados protestou junto à fronteira com a antiga república jugoslava da Macedónia, que respondeu com balas de borracha e gás lacrimogéneo, foram a gota de água para o governo grego. Depois de criticar abertamente o país vizinho pela violência empregue e também por ter entrado em solo grego para disparar contra os refugiados, o presidente da Grécia defendeu ao lado de António Costa que tais países não têm lugar na UE ou na NATO.

Tsipras apontou responsabilidades às ONG pelo clima de revolta em Idomeni

Mas a responsabilidade pelos incidentes está também a ser atribuída a grupos de voluntários estrangeiros. Também Alexis Tsipras, na conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro português, afirmou que “o governo também tem de lidar com algumas ONG que fazem o contrário do que seria suposto e tentam convencer as pessoas a ficar lá [em Idomeni], apesar dos riscos de ali permanecerem, porque pensam mais em obter fundos do que ajudar as pessoas”.

Desde domingo, a presença da polícia intensificou-se em Idomeni, quer através dos controlos às entradas e saídas do campo, com toda a gente a ser identificada, quer com a presença de elementos policiais à paisana dentro do campo em busca de suspeitos de incitamento à violência por parte de refugiados. As autoridades gregas também apontaram as organizações de voluntários como as autoras de um panfleto distribuído em árabe no mês passado, a anunciar uma rota alternativa para atravessar a fronteira, encaminhando os refugiados para uma perigosa travessia de um rio onde já morreram várias pessoas.

Organização independente de voluntários denuncia intimindação policial

Uma das organizações independentes envolvidas na ajuda aos refugiados – a Shorba Crew – reagiu às acusações que os media vêm repetindo e à detenção de três dos seus ativistas na véspera, o último episódio da intimidação que passaram a sofrer por parte dos agentes policiais.

https://www.facebook.com/aiddeliverymission/posts/270656483267197

Numa nota publicada no Facebook, afirmam que não organizam protestos nem espalham rumores sobre a abertura da fronteira, mas pelo contrário, têm ajudado a acalmar os ânimos e a desmentir os boatos que circulam diariamente, contribuindo também para que os refugiados consigam entender todo o processo burocrático de candidaturas a asilo e à unificação familiar.

Refugiados começam a partir para os campos de acolhimento

Depois das cenas de violência de domingo, muitos refugiados começaram a seguir o apelo das autoridades gregas para abandonarem o acampamento de idomeni, rumo aos campos de acolhimento que oferecem melhores condições de estadia. Nas últimas 24 horas partiram quinze autocarros com algumas centenas de refugiados, sobretudo yazidis, que serão realojados num centro perto de Polykastro.

https://twitter.com/marcelvdsteen/status/719903437752770560

Novos incidentes junto à fronteira esta quarta-feira

Esta quarta-feira voltaram a registar-se incidentes na zona fronteiriça, em Idomeni. Segundo a agência France Presse, um grupo de cem refugiados e migrantes aproximou-se da vedação que separa os dois países e voltou a ser recebida com gás lacrimogéneo. A diferença em relação aos graves incidentes de domingo foi a presença da polícia grega, que rapidamente ocupou posições entre os refugiados e a fronteira.

Segundo relatos de testemunhas no Twitter, ao contrário de domingo o gás lacrimogéneo não provocou danos graves aos manifestantes, uma vez que o vento soprava na direção contrária.