Num discurso à direção do Syriza, Alexis Tsipras diz que o FMI não tem coragem de assumir junto de Schäuble a decisão que já tomou e prefere inventar exigências irracionais para poder culpabilizar Atenas pelo fracasso.
Na reunião da direção do seu partido, Alexis Tsipras abordou a situação de impasse e discórdia entre os credores da Grécia a respeito do terceiro memorando. O líder do Syriza diz que o FMI já decidiu que não quer participar no financiamento de 86 mil milhões deste programa, mas em vez de o anunciar “preferem jogar poker, adiando, pois não querem colocar as culpas no ministro alemão. Tentam inventar novas exigências que são irracionais, impossíveis e imaginárias”, e forma a acabar por responsabilizar Atenas pela sua decisão. Nas últimas reuniões, FMI e Berlim exigiram mais medidas de austeridade para os próximos anos, para além da que foi acordada no memorando.
Tsipras criticou também o historial de previsões erradas que o FMI tem feito em relação ao seu país, e não só. “Quanto à Europa, por seu lado, recusa-se a tomar uma decisão antes das eleições decisivas, temendo o crescimento da extrema-direita”, prosseguiu.
O primeiro-ministro grego insistiu que não irá aceitar mais medidas de austeridade para além das que assinou no acordo de financiamento e acusa FMI e Berlim de estarem “a fazer jogos à custa do povo grego”, avisando-os de que “estão a brincar com o fogo”.
Greek PM Tsipras: IMF and Germany are “Playing with Fire” https://t.co/XlKoVYbEzn #Greece
— Greek Reporter (@GreekReporter) February 11, 2017
Enquanto a Grécia e os credores continuam a negociar as conclusões da segunda avaliação do programa de financiamento, que libertaria nova tranche do empréstimo para pagar mais reembolsos da dívida no verão, Berlim, Bruxelas e o FMI não se entendem sobre o destino do memorando.
O Fundo está impedido de participar em financiamentos em países com dívida insustentável e tem apelado a uma restruturação profunda da dívida grega. Uma hipótese rejeitada pelo ministro das Finanças alemão, que em véspera de campanha eleitoral no seu país voltou a colocar o cenário do Grexit em cima da mesa. Sem a participação do FMI no financiamento, Schäuble garante que o acordo assinado fica sem efeito.
“Quero lançar um apelo a Angela Merkel para impedir a constante agressão do seu ministro das Finanças à Grécia. A campanha eleitoral de um país não pode afetar a vida noutro país”, afirmou Alexis Tsipras este sábado.
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Dirigindo-se também a Wolfgang Schäuble, Tsipras avisou que “os que manipulam a favor de uma zona euro a duas velocidades, de divisões e fraturas, têm de saber que estão a brincar com o fogo. E tenho certeza de que no seu próprio governo não irão permitir que pirómanos brinquem com fósforos num armazém cheio de explosivos”.
A incerteza sobre o futuro do terceiro memorando é comum ao líder da Comissão Europeia. Em entrevista a uma rádio alemã, Jean-Claude Juncker afirmou que “o acordo está tremido, no sentido em que não estamos a ver como irá o FMI solucionar este problema”.
Juncker afirmou ainda que ao contrário do que repetem os governantes e os media do Norte da Europa, a Grécia fez mais reformas nos últimos anos do que “os dogmáticos europeus do norte”. “Sobretudo na Alemanha, falam como se conhecessem bem o que lá se passa. Mas não conhecem”, sublinhou.