Grécia é o primeiro destino dos refugiados que cruzam o Mediterrâneo

Refugiados chegam à ilha de Kos. Foto Giorgos Moutafis/Twitter

A Grécia foi o ponto de chegada de cerca de 125 mil refugiados e migrantes que arriscaram a vida no Mediterrâneo este ano. Longe de estar preparado para um acolhimento desta dimensão, o governo reúne hoje para tomar medidas de emergência. O Syriza quer mais apoio às redes de solidariedade auto-organizadas que têm dado a resposta mais eficaz no apoio aos refugiados.


As Nações Unidas estimam que aproximadamente 224.5 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo rumo à Europa. As ilhas gregas foram o ponto de chegada para quase 124.2 mil refugiados e migrantes, a Itália para 98.5 mil, Espanha para 1.7 mil e Malta recebeu 94 pessoas, segundo os dados oficiais destes países.

Até ao início de agosto, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, presidido pelo português António Guterres, estimava em 2100 o número de mortos e desaparecidos durante as travessias do Mediterrâneo.

A Síria é o ponto de partida e nacionalidade de dois terços dos refugiados que conseguiram chegar à Grécia. Segue-se o Afeganistão (20%) e o Iraque (5%).

Tsipras reúne governo para discutir crise dos refugiados

A falta de meios e de preparação da Grécia para o fluxo de refugiados dos últimos meses foi um dos temas do contacto mantido esta semana entre Alexis Tsipras e o comissário europeu para as Migrações, o grego Dimitris Avramopoulos. O governo deverá criar nos próximos dias uma entidade para receber e gerir o apoio financeiro de emergência de Bruxelas para responder a esta crise humanitária.

A reunião desta sexta-feira na sede do governo será presidida por Tsipras e contará com a presença dos ministros responsáveis pelas Migrações, Interior, Proteção Civil e Defesa. Na véspera, outra reunião ao nível ministerial começou a preparar a atualização do plano de ação nas ilhas de fronteira e a deslocação temporária dos refugiados que se encontram num dos parques de Atenas, bem como a avaliar os progressos na construção de centros de receção dos migrantes a nível nacional.

O ministro de Estado Alekos Flambourari criticou a falta de planeamento dos anteriores governos em relação ao assunto dos refugiados e confirmou o compromisso do atual governo em fornecer soluções de longo prazo para o acolhimento. Logo após as eleições, o governo encerrou alguns dos campos de detenção que funcionavam em condições infrahumanas e por isso eram palco frequente de motins.

Solidariedade cidadã tem sido a resposta mais eficaz, diz o Syriza

Tanto a polícia como algumas autarquias das ilhas onde chegam os refugiados chegaram a proibir o auxílio nas praias aos refugiados ou o seu transporte para as cidades mais próximas. Em algumas ilhas, depois de dias de penosa travessia do Mediterrâneo, os refugiados – entre os quais idosos, grávidas, crianças e bebés – são obrigados a percorrer a pé dezenas de quilómetros ao sol até à próxima localidade. E à chegada, o apoio alimentar é prestado por ONG ou grupos autoorganizados de cidadãos, algumas vezes com apoio das autarquias.

Em comunicado conjunto, o Departamento de Direitos Humanos do Syriza, a organização de juventude do partido e a organização de Atenas, pediu que o apoio do governo seja dirigido a estas redes de solidariedade auto-organizada, que “mostra que há outro caminho numa Europa que tem somado fracassos criminosos na gestão política da crise nas suas fronteiras”, caminho essa protagonizado pelo movimento antirracista grego.

O Syriza cita o exemplo de solidariedade que permitiu juntar os refugiados e migrantes no Parque Aeros, acabando com o seu isolamento, “apesar do excesso de zelo da polícia, da hostilidade da direita e da extrema-direita, e da fraca resposta do aparelho de Estado”.

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