32 deputados do Syriza votaram contra e 6 abstiveram-se na votação que deu luz verde às medidas exigidas pelos credores. Tsipras garante que “este governo não será um parêntesis” como desejam os adversários. O ministro Lafazanis votou contra, mas não põe a hipótese de se demitir. “Apoiamos o governo, não este acordo”, disse aos jornalistas à saída do parlamento.
Tal como Tsipras tinha pedido ao grupo parlamentar, a “rebelião” dos deputados do Syriza não se traduziu numa votação que pusesse em causa o governo. 124 deputados do Syriza votaram a favor do acordo, tal como 105 deputados de outras bancadas. No total, 229 deputados votaram a favor, 64 contra e 6 abstiveram-se. Na votação de sexta-feira sobre a proposta que o governo levou a Bruxelas, houve 251 votos a favor, 32 contra e 8 abstenções.
No governo e na bancada do partido que o apoia, ninguém escondeu a insatisfação pelas medidas que ali estavam a ser votadas e ao mesmo tempo contestadas nas ruas por eleitores e militantes do Syriza. O ministro Tsakalotos confessou que a passada segunda-feira “foi o dia mais difícil da minha vida” e que a decisão de sair de Bruxelas com o acordo lhe “irá pesar por toda a vida”. Ainda assim, Tsakalotos diz que “é cedo para julgar o acordo”, numa altura em que toda a Europa está a discutir o seu sentido. E prometeu que apesar de não ser um bom acordo, o governo vai procurar que os sacrifícios não recaiam sempre sobre os trabalhadores.
Tal como na entrevista dada na véspera à ERT, Alexis Tsipras afirmou que não acredita no efeito positivo da austeridade para o país, mas garantiu que não aplicará estas medidas como o fizeram os governos anteriores. Defendeu ainda que a alternativa ao acordo era a bancarrota do país e o transformar da crise humanitária numa catástrofe.
“Serei o último a facilitar o plano de expulsão do euro que temos combatido nos últimos meses”, afirmou Tsipras, referindo-se ao plano de Schäuble que passou a ser público durante a cimeira do Eurogrupo em Bruxelas. “Deixámos um legado de democracia e dignidade no mundo democrático”, afirmou Tsipras, dizendo ter orgulho na luta que travou “contra adversários poderosos do sistema financeiro internacional”. “E estou confiante que esta luta dará frutos na Europa”, concluiu.
O primeiro-ministro grego afastou ainda os cenários de demissão, repetindo que não vai fugir às suas responsabilidades nem deixar o país entregue aos que o afundaram na crise, com o apoio dos que agora asfixiam o sistema financeiro da Grécia. “Não faremos o favor aos nossos adversários de dentro e de fora do país de nos tornarmos um pequeno parêntesis”, avisou Tsipras.
Lafazanis: “Apoiamos o governo, não este acordo”
À saída da votação do primeiro pacote de austeridade, que não contou com o voto de 38 deputados do Syriza, o ministro Lafazanis disse que o governo continua forte, apesar de ter votado contra o acordo de Bruxelas.
Reforçado internamente pela declaração da maioria do Comité Central dos núcleos do Syriza a pronunciarem-se contra o acordo, Lafazanis diz que os governantes e deputados que votaram contra no parlamento têm condições para continuar a “apoiar o governo no seu esforço para sair da crise”.
A fasquia mínima para o apoio ao governo em moções de censura ou confiança é de 121 deputados, e esta madrugada o pacote de austeridade obteve 124 votos do Syriza a favor. O cenário de demissão foi afastado pelo próprio primeiro-ministro no discurso, mas uma remodelação será inevitável após as duas demissões desta semana. Resta saber se irá mais além, retirando o titular da importante pasta da Energia, numa altura em que avançam as negociações com a Rússia para a concretização do projeto do gasoduto, protagonizadas por Lafazanis.