Tsipras: “Não queremos juntar-nos aos sociais-democratas”

Alexis Tsipras. Foto Stéphane Burlot. Licença Creative Commons - Atribuição, Não Modificar - Uso Não Comercial)

Entrevistado esta manhã na rádio, o primeiro-ministro grego diz estar orgulhoso da batalha travada nos últimos seis meses e que a tarefa do governo será o ataque à oligarquia e compensar os efeitos negativos do memorando. “O Grexit estará em cima da mesa enquanto não houver alívio da dívida”, diz Tsipras, prevendo que essa parte do acordo possa avançar em novembro.


Numa entrevista em que passou em revista os primeiros meses do mandato, a decisão de convocar o referendo, a chantagem do acordo de 12 de julho e a divisão no Syriza, Alexis Tsipras deixou claro que o partido “não está interessado em juntar-se aos sociais-democratas”, que considera estarem afundados num “impasse estratégico”.

“Eu sou a última pessoa a desejar eleições, se tiver maioria parlamentar. Mas se não a tiver, serei obrigado a ir a eleições”, afirmou o primeiro-ministro da Grécia à rádio Kokkino. Tsipras defende que um partido no governo “não pode funcionar com centros de poder paralelos” e que as decisões coletivas devem ser seguidas por todos os deputados, “e caso contrário devem devolver os seus lugares”.

“Não vou deixar que os problemas do Syriza se tornem problemas do país”.

Para resolver as divergências no seio do grupo parlamentar, Tsipras defende um “processo coletivo” que pode passar pela convocatória de um congresso extraordinário para setembro. Uma escolha defendida pelo líder do Syriza esta semana, mas que os dirigentes da Plataforma de Esquerda recusam, propondo em alternativa uma conferência, o que evitaria a eleição de novos delegados e dirigentes do partido.

“Não se pode dizer que se discorda com as decisões do governo e que se apoia o governo. Isso é levar o surrealismo a um outro nível”, afirmou Tsipras, comentando as posições dos ex-ministros e da presidente do parlamento, Zoe Konstantopoulou. O primeiro-ministro grego insiste que não vai deixar “que os problemas do Syriza se tornem problemas do país”.

Tsipras voltou a justificar a assinatura do acordo em Bruxelas por ser a única alternativa ao colapso dos bancos. Para o primeiro-ministro, o cenário do dia seguinte à recusa de um acordo seria o colapso de dois dos principais bancos, que arrastaria os restantes. Uma situação que, na prática, reduziria a pó todos os depósitos.

“Nunca dissemos na campanha eleitoral que governar seria um passeio”

“A nossa diferença [em relação aos anteriores governos] é que nós não reclamamos a autoria do programa. É uma receita errada que somos obrigados a aplicar, mas iremos lutar para derrubá-la e procurar formas de compensar o seu impacto”, acrescentou, considerando que os efeitos negativos do controlo de capitais na economia grega “são reversíveis”.

Nesta entrevista, Tsipras disse que povo grego fugiu da prisão da austeridade para depois ser atirado para a cela solitária. Mas nesta “vitória de Pirro” dos poderes da UE, ficou bem à vista o beco sem saída das políticas que defendem, sublinhou, afirmando que isso se deve à posição da Grécia durante os meses de negociações promovidas sob asfixia financeira.

“Nunca dissemos na campanha eleitoral que governar seria um passeio nem que íamos rasgar o memorando por decreto. O mandato que tivemos foi fazer tudo ao nosso alcance para travar a sangria do povo”, defendeu. Tsipras admitiu que a decisão de convocar o referendo foi “de alto risco” mas face às medidas previstas no ultimato de junho, não havia outra saída. E graças a ele, há hoje um compromisso para aliar a dívida da Grécia, concluiu.

Tsipras destacou algumas das leis progressistas aprovadas no primeiro semestre do mandato e diz que esse esforço irá prosseguir, com a aprioridade no “ataque à oligarquia”. A lei de regulação dos media, que se encontra em fase de discussão pública, é um dos próximos passos nesse sentido.