Num artigo publicado no Guardian, o ex-ministro das Finanças grego diz que a Alemanha não aceita a restruturação da dívida porque o plano de Wolfgang Schäuble é usar o “Grexit” como meio para “disciplinar a zona euro e a França”.
Para Varoufakis, o “Grexit” tornou-se “ora o desfecho preferido ou a arma escolhida contra o nosso governo” pela larga maioria do Eurogrupo, “sob a tutela de Schäuble”. “Pela minha experiência nos cinco meses de negocição, a minha convicçção é que o ministro das Finanças alemão quer ver a Grécia ser expulsa da moeda única para atemorizar os franceses e fazê-los aceitar o seu modelo de uma zona euro disciplinadora”, concluindo que a dívida insustentável da Grécia serve o interesse do ministro alemão.
Why Germany resists a Greek debt restructure http://t.co/CHEzPKnu5P
— Yanis Varoufakis (@yanisvaroufakis) July 10, 2015
Dias antes do referendo e da sua demissão, Varoufakis chegou a prometer que cortaria um braço para não assinar um acordo que não previsse a restruturação da dívida. E volta a defender neste artigo que tal medida é essencial para o sucesso das reformas na Grécia.
“Uma dívida grega permanentemente insustentável, sem a qual desapareceria o risco de Grexit, ganhou uma nova utilidade para Schäuble”,
Recuando a 2010, quando a restruturação da dívida grega foi recusada porque traria perdas para os bancos alemães e franceses, Varoufakis recorda como a UE escolheu tratar a questão: “Procurando evitar confessar aos parlamentos de que os contribuintes teriam de voltar a pagar pelos bancos através de novos empréstimos insustentáveis, os responsáveis da UE apresentaram a insolvência do Estado grego como um caso de “solidariedade” com os gregos” e acabou por resgatar os bancos.
Depois do falhanço da receita da austeridade na Grécia – que segundo Varoufakis podia ser previsto pelos conhecimentos matemáticos de um “miúdo de oito anos esperto” – a Europa encontrou outra razão para não restruturar a dívida: “isso agora ia sair do bolso dos contribuintes! E assim foram administradas doses crescentes de austeridade enquanto a dívida crescia, levando os credores a prolongar os empréstimos em troca de ainda mais austeridade”.
Varoufakis argumenta também sobre as razões dos obstáculos que serão colocados ao seu sucessor, quando Tsakalotos entrar na reunião do Eurogrupo com a proposta de “fazer da restruturação uma condição para o sucesso das reformas na Grécia e não uma recompensa ex-post”.
Elas são três: a “inércia institucional”; o “imenso poder” dos credores sobre os devedores quando a dívida é insustentável; e a situação híbrida do euro entre um sistema de taxas de câmbio fixas e uma moeda de Estado. “Após a crise financeira de 2008/9, a Europa não sabia como responder. Devia preparar terreno para pelo menos uma expulsão (isto é, a Grécia) para fortalecer a disciplina? Ou avançar para uma federação? Até agora não fez nenhuma, com a sua ansiedade existencialista sempre a crescer. Schäuble está convencido de que na situação presente precisa de um Grexit para afastar as dúvidas, num sentido ou noutro”, prossegue Varoufakis.
E é por estas razões que “subitamente, uma dívida grega permanentemente insustentável, sem a qual desapareceria o risco de Grexit, ganhou uma nova utilidade para Schäuble”, defende Varoufakis.