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Tsipras: “Crise dos refugiados é novo teste à solidariedade europeia”

Alexis Tsipras

O primeiro-ministro grego insurgiu-se contra a instituição do princípio de solidariedade “à la carte” na União Europeia, em que alguns Estados se recusam a contribuir com ajuda técnica e financeira aos países de acolhimento dos refugiados, como a Grécia e Itália.


No fim da reunião extraordinária do governo que discutiu medidas para responder à chegada de milhares de refugiados às ilhas gregas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras sublinhou que a responsabilidade dessa resposta deve caber ao conjunto da União Europeia e não apenas aos países que foram o primeiro ponto de chegada de mais de 200 mil refugiados e migrantes desde o início do ano.

“É evidente que o fluxo de refugiados e migrantes resulta das intervenções militares do Ocidente, em particular na Síria e na Líbia, bem como no Iraque e Afeganistão, no passado recente”, lembrou Tsipras, contrapondo que hoje são “os países de acolhimento a serem chamados, infelizmente, a lidar com esta situação grave, tanto para a Itália como para a Grécia”.

Tsipras afirmou ter insistido nas duas últimas cimeiras europeias para que fossem usados todos os recursos à disposição da UE, incluindo novos fundos de emergência, na resposta ao aumento da chegada dos refugiados.

“Foram os membros mais recentes da UE que rejeitaram o princípio da solidariedade” 

“Infelizmente, devido à insistência de alguns países, ficou decidido que esse apoio seria dado numa base voluntária”, o que para o governo de Atenas “levanta uma questão muito séria: o princípio da solidariedade não pode ser tratado à la carte e de forma opcional para certos países”.

“É importante sublinhar que os membros mais recentes da União Europeia se recusam a adotar o princípio da solidariedade e defendem que os países de acolhimento dêem contra do problema”, denunciou Tsipras este sábado. ”A UE não serve para nada se for uma União onde cada um dos estados só protege os seus interesses. O tema da Grécia já foi um teste à UE. Na minha opinião, o resultado no que toca à crise económica foi negativo”, prosseguiu, prometendo fazer todos os possíveis para ajudar os que precisam com os recursos limitados ao dispor do seu país. “Mas faremos também todos os possíveis para ilustrar a verdadeira dimensão do problema, que excede a capacidade do nosso país. Este é um problema europeu e como tal tem de ser resolvido através do princípio fundador da solidariedade”, insistiu.

O primeiro-ministro grego salientou ainda a necessidade de envolver a Turquia, que acolhe um número importante de refugiados da guerra civil na Síria, neste esforço de solidariedade europeia.

Governo quer usar infraestrutura pública no apoio às redes de solidariedade

A reunião governamental delegou no ministro de Estado Alekos Flambouraris e na ministra adjunta Tasia Christodoulopoulou a coordenação de esforços para melhorar os pontos de acolhimento nas ilhas e o processo de identificação dos refugiados, bem como a rápida deslocação para o continente. Por indicação de Bruxelas, também foi criada uma entidade para gerir os fundos de emergência que já estão ao dispor da Grécia.

O governo decidiu ainda este sábado usar as infraestruturas do Estado e dos governos locais para responder às necessidades de acolhimento e apoiar “os esforços da sociedade civil, ONGs, voluntários, cidadãos que se mobilizam em solidariedade e que já agiram significativamente na resposta ao problema”.

Na declaração feita no fim da reunião com os ministros, Tsipras agradeceu à Câmara de Atenas e aos voluntários que transformaram o parque onde se concentraram centenas de refugiados “num parque de solidariedade para os nossos semelhantes que procuram uma vida com dignidade”.