As declarações de Nikos Mihaloliakos surgiram na véspera do segundo aniversário da morte do rapper Pavlos Fyssas às mãos de um membro do partido neonazi grego e provocaram declarações de repúdio das restantes partidos. Apesar dos seus membros estarem a ser julgados por associação criminosa, a Aurora Dourada surge destacada nas sondagens como a terceira força partidária na Grécia.
“No que toca à responsabilidade política pelo assassinato em Keratsini, assumimo-la. Mas não a responsabilidade criminal”, disse o líder da Aurora Dourada esta quarta-feira numa entrevista à rádio Real FM. O assassinato do rapper Pavlos Fyssas desencadeou uma operação policial contra o partido neonazi, que levou à prisão de vários dirigentes e deputados. O julgamento por associação criminosa ainda decorre e deve concluir-se em novembro, mas os últimos deputados que ainda estavam presos foram soltos nos últimos dias.
“Este crime hediondo revelou à sociedade grega a face odiosa da Aurora Dourada: um gang fascista e assassino dirigido contra os mais fracos, com o pretexto de uma retórica antisistema espúria, que é absolutamente conveniente para o sistema”, declarou o Syriza em comunicado. A Nova Democracia também reagiu ao que considerou uma “confissão provocatória durante a campanha eleitoral com o objetivo de aterrorizar os cidadãos e os partidos”.
A sketch circulating Greek media on #GoldenDawn. "Nazis & murderers, you vote for them & become accomplice". #Greece pic.twitter.com/VdE5cGMa4C
— Dimitris Rapidis (@rapidis) September 18, 2015
O gabinete de imprensa do KKE diz que a confissão do líder da Aurora Dourada “não lhe retira, antes reforça, as responsabilidades criminais pelo assassinato de Fyssas” e por muitos outros ataques, incluindo a imigrantes e sindicalistas comunistas, confirmando assim “que a natureza criminosa da Aurora Dourada deriva da ideologia nazi”. Para a Unidade Popular, “a confissão de Mihaloliakos prova que o assassinato de Pavlos Fyssas não foi um caso isolado, mas um resultado de uma ideologia, ação e organização fascista por parte da organização neonazi”.
O Potami sublinhou que “cada voto na Aurora Dourada é uma recompensa para os seus atos criminosos” e que “é um dever de toda a gente não permitir que no domingo seja dado ao chefe de um gangue criminoso o terceiro mandato para formar governo”. Quanto ao Pasok, apelou aos gregos para responderem à provocação nas urnas, “fechando a porta ao gang de assassinos”. Também os Gregos Independentes reagiram às declarações de Mihaloliakos, sublinhando a sua “imensa cobardia e cinismo” que são “a cara repugnante da organização neonazi”.
Sondagens indicam que Aurora Dourada pode sair reforçada das eleições
Todas as sondagens publicadas esta quinta-feira dão o partido neonazi destacado na terceira posição, com 6.5% a 7.2% das intenções de voto. A confirmarem-se as previsões, a Aurora Dourada reforçará a sua votação em relação a janeiro, quando obteve 6.3%, recuperando para mais perto dos 6.9 que obteve em 2012.
A campanha xenófoba contra os migrantes, uma das principais bandeiras do partido, ganhou mais força com a entrada de mais de 200 mil refugiados em fuga à guerra da Síria. Para além do reforço da propaganda, registaram-se ataques a refugiados nalgumas ilhas.
Para o jornalista Yorgos Mitralias, do Comité Contra a Dívida Grega, a ascensão eleitoral dos neonazis gregos pode não ficar por aqui, com a dispersão de forças da esquerda e a perspetiva de um governo de coligação com os partidos do velho sistema a fazer “a paisagem ideal para a extrema-direita”.
“Na realidade, os dirigentes do Syriza nunca compreenderam que o seu próprio sucesso eleitoral não era outra coisa que a outra face da moeda do sucesso da Aurora Dourada, pois as enormes fraturas de que ambos os partidos foram o resultado, bem como a ilustração da procura desesperada de soluções radicais, nos extremos do mapa político do país, por parte de grande parte da população pauperizada, radicalizada e em cólera”, defende Mitralias, avisando que “todo o sectarismo que conduz ao atual esfrangalhamento extremo das forças da esquerda radical equivale a um verdadeiro suicídio que faz a cama à extrema-direita neonazi”.