É improvável que o Eurogrupo desta semana dê luz verde à primeira avaliação do memorando grego. Atenas recusa mais austeridade do que a prevista no acordo de julho e confia que os números do Eurostat vão mostrar que o saldo primário orçamental do país superou as previsões da troika.
Depois do terremoto provocado pela revelação dos planos do FMI para a bancarrota grega e as suas denúncias da incapacidade europeia para concluir as negociações, as reuniões técnicas prosseguiram nas últimas semanas. Esta quarta-feira há nova reunião em Atenas, com a presença do FMI e das instituições europeias. Em Bruxelas, fonte da Comissão disse à Reuters que pode haver reunião extraordinária do Eurogrupo na próxima semana, caso o acordo seja fechado após a reunião de sexta dos ministros das Finanças da zona euro.
Euro zone ready to finalize Greek deal next week, if talks succeed https://t.co/0ZXDhy1yWf
— Reuters World (@ReutersWorld) April 20, 2016
“Nas últimas semanas fizemos avanços substanciais juntamente com as autoridades gregas. No entender da Comissão Europeia, podemos estar perto de concluir a primeira avaliação”, afirmou o vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis.
Esta primeira avaliação irá desbloquear não apenas o financiamento acordado no verão passado em Bruxelas, como o início do debate sobre a restruturação da dívida grega. A entrada do FMI neste programa de assistência está condicionada à redução substancial da dívida da Grécia, mas também à imposição de nova dose de austeridade que tem sido recusada pelo governo grego. As medidas que o FMI propõe assentam em previsões económicas mais pessimistas do que as europeias, com Atenas a responder que as previsões do FMI têm sempre falhado desde o início dos memorandos.
“Estarmos hoje a discutir medidas adicionais para o caso do saldo primário orçamental de 2018 não cumprir as metas não só não faz grande sentido, como não é bom para a economia e desestabiliza o clima económico”, afirmou a porta-voz do governo grego, Olga Gerovassili.
Para já, as negociações técnicas resultaram no acordo de conseguir o equivalente a 1% do PIB através do aumento da taxa normal do IVA de 23% para 24%, mantendo a taxa reduzida nos 13%. Governo e credores não se entendem quanto ao limite mínimo de rendimento livre impostos, com o governo a propor cerca de 9100 euros e os credores cerca de 8000 euros.
Tsipras e Merkel ao telefone nas vésperas do Eurogrupo
Esta terça-feira, Alexis Tsipras e Angela Merkel falaram ao telefone sobre as perspetivas para a conclusão da primeira avaliação. Fontes governamentais dizem que o primeiro-ministro grego avisou Merkel para não insistir em medidas adicionais de austeridade, que significariam novos aumentos de impostos.
Para sublinhar que tais medidas não são necessárias, Tsipras chamou a atenção para os dados que serão revelados esta semana pelo Eurostat, que devem confirmar que o saldo primário orçamental grego teve um superavite de 0.5% a 0.7%, em vez do défice de 0.25% previsto nas metas do memorando para 2015.
Também o vice-primeiro-ministro Yiannis Dragasakis, em entrevista à rádio Kokkino 105.5, afirmou-se confiante nos números positivos a revelar pelo Eurostat, mas também no desempenho da economia grega em 2016. Dragasakis insistiu que só depois de fechada a primeira avaliação com as medidas anteriormente previstas é que deve ter início o debate sobre a dívida e as medidas adicionais a tomar caso as metas futuras não sejam cumpridas.
Dragasakis comentou ainda a vontade do governo alemão em que o FMI esteja presente no programa grego, ao mesmo tempo que discorda do FMI sobre a redução da dívida grega. “Um problema nas relações entre eles não se pode transformar num problema nosso”, diz o nº 2 do governo.