O clima de tensão no campo de acolhimento sobrelotado de Moria resultou em confrontos e num incêndio que destruiu parcialmente o campo. Não houve feridos, mas milhares de refugiados perderam o seu abrigo.
As versões divergem sobre o que terá estado na causa do tumulto que irrompeu no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, que também alberga centenas de menores desacompanhados. Há quem diga que tudo começou com uma discussão sobre a comida, outros falam de rumores acerca de uma possível deportação em massa para a Turquia. O certo é que o violento incêndio que se seguiu, com a ajuda do vento forte, reduziu a cinzas as tendas e pré-fabricados do campo, obrigando à fuga de mais de 4 mil pessoas, embora não haja mortos nem feridos a registar.
A polícia grega deteve nove pessoas, oriundas do Afeganistão, Iraque, Síria, Senegal e Camarões, suspeitas de terem estado na origem do incêndio. E o governo anunciou o envio de uma embarcação com capacidade para acolher temporariamente cerca de mil desalojados.
Fire at #Moria reception centre in Greece forced large number of refugees and migrants to leave government-run site https://t.co/Mn1HcQ1UBs pic.twitter.com/GTZdHPowXE
— UNHCR, the UN Refugee Agency (@Refugees) September 20, 2016
Segundo a ONU, a ilha de Lesbos acolhe atualmente 5600 refugiados, embora a capacidade dos campos seja limitada a 3600 pessoas. Devido ao acordo UE/Turquia, todos os migrantes e refugiados que chegaram às ilhas gregas após 20 de março, dia da entrada em vigor deste acordo não devem ser transferidos para o continente, para evitar que tentem sair da Grécia através das rotas ilegais, após o encerramento das fronteiras a norte do país.
No access to #Moria camp in #Lesbos. Migrants talk of anger at delayed asylum applications prompting fights and fire. Damage largely cleared pic.twitter.com/c4HF6kNWMw
— Mark Lowen (@marklowen) September 20, 2016
Presos nas ilhas sem qualquer perspetiva de dali conseguirem sair – o prazo de resposta estimado para os requerimentos de pedido de asilo é de 18 meses – a situação de desespero destes milhares de pessoas que fugiram do seu país para encontrar um futuro melhor na Europa aumenta de dia para dia. E a sucessão de rixas nos campos de refugiados é acompanhada do reforço da propaganda xenófoba por parte dos elementos neonazis da Aurora Dourada naqueles territórios.
Bruxelas quer manter refugiados nas ilhas
Comentando os incidentes da noite de segunda-feira, uma porta-voz da Comissão Europeia, Natasha Bertaud, reafirmou que os refugiados deverão permanecer nas ilhas tal como previsto, apesar dos apelos lançados pelas autoridades regionais de Lesbos para que sejam de imediato transferidos para o continente. Para já, o governo só se comprometeu a transferir os menores desacompanhados para centros de acolhimento.
“Assistir aos destroços em cinzas de Moria é chocante, mas não surpreende. Reter milhares de pessoas vulneráveis em Lesbos em péssimas condições e sem saberem do seu destino cria inevitavelmente uma atmosfera incendiária de medo e desânimo”, afirmou à Associated Press Giorgos Kosmopoulos, da Aministia Internacional.