Na abertura do 2º Congresso do Syriza, Alexis Tsipras defendeu que a segunda avaliação do memorando deverá ir a par com medidas de alívio da dívida e a entrada da Grécia no programa de compra de dívida do BCE.
O 2º Congresso do Syriza começou esta sexta-feira em Atenas com o discurso de abertura do líder do partido e primeiro-ministro grego. Para além de um balanço da governação do Syriza, Tsipras dirigiu-se aos credores para exigir que o acordo de julho de 2015 seja cumprido.
Aποδείξαμε ότι ξέρουμε να δίνουμε μάχες και να τις κερδίζουμε. #2οSynedrio #Syriza pic.twitter.com/6f8XzzYNpN
— Αλέξης Τσίπρας – Alexis Tsipras (@atsipras) October 14, 2016
“O plano está bem claro no acordo de julho: Completar a primeira e mais difícil avaliação do programa e logo em seguida termos medidas concretas para o alívio da dívida e para juntarmo-nos ao programa de quantitative easing (compra de dívida soberana) do Banco Central Europeu”, afirmou Tsipras.
“Nós cumprimos os nossos compromissos e ontem encerrámos formalmente a primeira avaliação. Esperamos e exigimos que os nossos parceiros façam o mesmo. Pacta sunt servanda, como dizem os nossos amigos alemães”, prosseguiu Tsipras, acrescentando que “os conflitos e controvérsias entre as instituições não o oposto do que necessitamos. Isso não pode continuar e é injusto que prossiga. A crise grega tem de acabar de vez. A Europa não pode suportar mais choques e turbulência, mesmo nas vésperas das eleições decisivas em França, na Holanda e na Alemanha, ou do referendo em Itália. Por isso, o acordo deve ser respeitado por todos”.
“Quero deixar bem claro: não podemos aceitar a conversa do “façam o vosso trabalho de casa e logo se vê…”, avisou o líder do Syriza, prevendo que “a segunda avaliação será fechada a tempo e será menos difícil que a primeira”. “Mas será fechada em simultâneo com medidas para aliviar a dívida e com a entrada no programa de compra de obrigações do BCE. Não é “logo se vê”, é ao mesmo tempo”, exigiu, recusando que essa exigência dos gregos não é feita “como pedintes ou parentes pobres, mas com a cabeça levantada e com a dignidade de um povo que sofreu muito e fez grandes sacrifícios para ficar de pé na Europa”.
“Saída do euro equivaleria a nova pilhagem da riqueza nacional”
Respondendo ao setor que abandonou o partido em confronto com a assinatura do terceiro memorando, Alexis Tsipras defendeu a decisão de evitar o Grexit. “A saída do euro não era e não é um plano progressista. Sem dúvidas, nós criticámos a decisão de entrar no euro. Mas o resultado da saída, após cinco anos de pilhagem de um quarto da riqueza nacional para continuarmos no euro, significaria no imediato uma pilhagem adicional da mesma dimensão e a perda dos depósitos da população no sistema bancário”, apontou.
“O plano da minoria que saiu do partido não era radical, era o plano do ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble. Se cedêssemos a esse plano, não iríamos mudar a Europa nem o velho sistema político nacional. Seria uma derrota estratégica histórica para a esquerda”, garantiu.
Recuando à crise política do ano passado, Tsipras argumentou que “com o referendo, ganhámos no plano ético aos nossos adversários e conseguimos um acordo muito melhor do que fez Samaras, pelo menos 22 mil milhões em três anos e excedentes orçamentais inferiores”.
“Nunca nos escondemos atrás das nossas decisões. Logo após o acordo de julho, voltámo-nos para o povo grego, com o acordo em cima da mesa e conhecido de todos. E não tivemos um cheque em branco, mas um novo mandato claro com o mesmo resultado para nos livrarmos do velho sistema político corrupto e para levarmos a cabo um plano para sair da crise”, prosseguiu.
“Sabemos os limites e riscos da aliança com os Verdes e os Social-Democratas europeus”
No seu discurso, o primeiro-ministro grego procurou ainda contrariar a ideia de isolamento do seu governo à escala europeia. “Mesmo na Alemanha, a nossa exigência de ação imediata sobre a dívida tem o apoio parlamentar dos sociais-democratas, dos Verdes e da Esquerda. O governo alemão tem de perceber isso de uma vez por todas”, disse.
“A Grécia e o Syriza têm tido um papel de liderança na criação de uma frente do Sul da Europa e de uma frente paralela das forças progressistas, com o objetivo de reverter a austeridade, enfrentar o crescimento da extrema-direita, evitar a conversão da Europa numa fortaleza, resolver a crise dos refugiados com solidariedade e hospitalidade e dar uma solução pacífica aos conflitos no Médio Oriente que as intervenções imperialistas e o crescimento do terrorismo islâmico transformaram num barril de pólvora”, defendeu Tsipras.
“Mas não pode ser o Syriza, sozinho, que enquanto único partido da esquerda radical no governo teria um papel subalterno no desenrolar da situação europeia. Por isso juntamos forças com os Verdes e os sociais-democratas, sabendo os limites e os riscos desse tipo de estratégia”, prosseguiu.
Alexis Tsipras destacou ainda as medidas sociais aprovadas pelo governo no apoio aos mais pobres, alargamento da cobertura de saúde, na readmissão dos funcionários públicos despedidos à margem da Constituição, no combate ao desemprego, regularização de dívidas em prestações, combate à evasão fiscal, entre outras. E prometeu lutar para recuperar a negociação coletiva nas empresas, um dos temas que opõe governo e credores na segunda avaliação do programa que agora se seguirá.