Para o ministro das Finanças grego, as principais virtudes do acordo alcançado esta semana são o compromisso dos países da zona euro em ajudarem a Grécia a regressar aos mercados e o afastamento da incerteza dos investidores sobre a saída do memorando no fim de 2018.
Após semanas de braço de ferro entre o FMI e Berlim sobre a dimensão de alívio da dívida necessária à entrada do Fundo no acordo assinado no verão de 2015, o resultado foi um compromisso que agrada à Alemanha: as medidas já aprovadas de curto prazo serão implementadas e as mais substanciais ficam adiadas para o próximo ano, retirando assim o tema da campanha para as eleições alemãs de setembro. Por seu lado, ao não ver concretizado um alívio substancial da dívida grega, o FMI não entra de corpo inteiro no financiamento do programa e limita-se a celebrar um acordo transitório que permitirá financiar o país no próximo ano.
Agreement today recognizes Greek reform efforts and allows more time for debt relief discussions w European partners https://t.co/U0pHybLgCq pic.twitter.com/mqkk4o5yXU
— IMF (@IMFNews) June 15, 2017
Boa parte da tranche do empréstimo agora desbloqueada regressará ao bolso dos credores em julho
Para já, a tranche de 8500 milhões de euros será desembolsada após ser dada luz verde à segunda avaliação do acordo mais conhecido por terceiro memorando – ou mesmo quarto memorando, dada a extensão das medidas aprovadas nos últimos meses para que as contas públicas alcancem excedentes orçamentais primários de 3.5% até 2022 e de 2% até 2060, metas que nenhum país europeu cumpriu até hoje. Grande parte do financiamento agora aprovado à Grécia regressa à conta dos credores europeus já no próximo mês, quando vence o prazo de reembolso de empréstimos anteriomente concedidos.
Para o ministro das Finanças grego, o acordo alcançado no Eurogrupo “introduz clareza tanto para os investidores como para o povo grego sobre o futuro próximo. Será tanta clareza como merece o povo grego, após todas as reformas e sacrifícios feitos? Talvez não. Mas admitimos que não quisemos que o ótimo fosse inimigo do bom. E também admitimos que todas as partes tentaram chegar em alguma medida a um compromisso”, afirmou Euclid Tsakalotos à saída da reunião dos ministros das Finanças da zona euro.
“Agradeço a todas as pessoas que acreditaram que desde que fizemos o acordo no verão de 2015 podíamos criar as bases para sair do programa e dar à Grécia um roteiro claro para virar a página. Como disseram alguns no Eurogrupo, agora há luz no fundo do túnel”, prosseguiu Tsakalotos, explicando em seguida a razão do otimismo: “O último parágrafo da declaração compromete os membros do Eurogrupo a ajudar a Grécia a manter-se de pé, a regressar aos mercados e a acabar o programa”.
#Eurogroup statement on #Greece https://t.co/CznMrDuoCR
— EU Council Press (@EUCouncilPress) June 15, 2017
No que respeita à dívida, onde as conclusões ficaram muito aquém do desejado por Atenas, Tsakalotos referiu que também aqui “há mais clareza, não apenas nas medidas a curto prazo mas também nas medidas a médio prazo no fim do programa. E há um mecanismo que permite aumentar o alívio da dívida consoante o crescimento da economia”.
Por fim, o ministro das Finanças destacou no documento aprovado o “novo ênfase sobre crescimento e investimento: há um pacote de investimento importante ligado a esta decisão, incluindo a criação de um banco estatal para o desenvolvimento”. Em resumo, concluiu Tsakalotos, “o objetivo central em tudo isto é sair do programa no fim de 2018 e por isso estou hoje mais contente do que estava na semana passada, já para não falar da reunião de 22 de maio”.
Mercados reagem em alta, oposição critica governo pelo resultado alcançado
O anúncio do acordo no Eurogrupo teve reflexo imediato nos juros da dívida grega a curto prazo, que atingiram o valor mais baixo desde outubro de 2014, em contramão com a subida registada nos juros da dívida nos outros países da zona euro esta sexta-feira. A possibilidade agora aberta para o Banco Central Europeu incluir nos próximos meses a compra de dívida grega no seu programa de estímulo à liquidez, abrindo o caminho a um regresso aos mercados da dívida grega, é a razão da queda dos juros, segundo investidores e analistas contactados pela agência Reuters. Se a Grécia se financiasse hoje junto dos mercados, pagaria um juro de 4.76% nas obrigações a 2 anos e 5.67% nas obrigações a 10 anos. Em Atenas, o índice da bolsa subiu para o máximo desde junho de 2015, com as ações da banca a valorizarem cerca de 3%.
Nos corredores do parlamento grego, este acordo foi recebido com críticas pelos partidos da oposição à direita e à esquerda. Enquanto a Nova Democracia acusou o governo de “aceitar aquilo que lhe deram”, criticando o primeiro-ministro Tsipras por mais uma vez não conseguir alcançar o que queria na Europa, os comunistas do KKE destacaram os “elogios do Eurogrupo às medidas antipopulares da segunda avaliação e do quarto memorando” e concluem que “os únicos que ganham com o desastre para o povo são o capital e os investidores que ganham novos privilégios”.