Faz hoje um ano que 61.3% dos eleitores rejeitaram em referendo o acordo proposto pelos credores à Grécia, apesar da campanha de terror mediático e dos bancos encerrados.
O resultado do referendo mostrou a rejeição da população grega aos memorandos que empurraram o país para o abismo, com uma queda de 25% do PIB em seis anos e cortes sucessivos nos salários e pensões.
Ao fim de seis meses de negociações com os credores, o resultado foi um beco sem saída, com Juncker a apresentar uma proposta que não resolvia nenhum dos problemas em cima da mesa, carregava o país com mais dívida e condenava-o a mais medidas de austeridade em troca.
Logo após o referendo, o governo de Alexis Tsipras voltou à mesa das negociações e cedeu a muitas exigências dos credores em troca de financiamento por três anos e o compromisso de um alívio da dívida grega ao longo do processo. Acusado de capitulação e traição à vontade dos eleitores, Tsipras viu o seu partido dividir-se e muitos dos seus membros acabaram por formar novos partidos. A resposta foi a convocação de eleições para legitimar a decisão de assinar um novo memorando, que venceu com um apoio semelhante ao que tinha tido nove meses antes com a promessa de rasgar o memorando. O confronto com os credores e o volte-face que levou à assinatura do acordo em Bruxelas foi registado pelo jornalista Paul Mason no documentário “This Is a Coup”, que pode assistir aqui.
Para marcar o aniversário do referendo e voltar a denunciar a capitulação do governo, os sindicatos e a oposição extraparlamentar regressam à rua esta terça-feira em Atenas. A central sindical da função pública ADEDY convoca o protesto e tem na mira as medidas que encontra na agenda dos credores quando se abrir o processo da segunda avaliação do memorando. Os despedimentos coletivos, a abolição do 13º e 14º mês no privado ou a limitação do direito à greve são propostas que a central sindical prevê que surjam em cima da mesa, na linha da reforma laboral contestada pelos trabalhadores em França.
Também a coligação Antarsya, a Unidade Popular do ex-ministro Lafazanis e a Viagem para a Liberdade, de Zoe Konstantopoulou, já anunciaram que vão participar nos protestos do centro de Atenas ao fim da tarde.
Syriza: Referendo foi aviso à UE, confirmado agora pelo Brexit e ascenso dos nacionalismos
Por seu lado, o Syriza também assinalou o dia com um comunicado acerca do dia da “grande recusa” em que o povo grego mandou um sinal à Europa que “despoletou e continua a despoletar avanços progressistas noutros países”. O partido de Tsipras diz que o resultado do referendo foi um aviso às autoridades europeias e à sua “obsessão com os números enquanto o povo sofre”. “Um aviso tristemente confirmado agora pelo brexit e pelo ascenso dos nacionalismos”, refere a nota. O partido saúda ainda o resultado das eleições pós-referendo que abriram o caminho para uma política diferente, de desenvolvimento com marca social, compromisso com a restruturação da dívida, não submetido à lei inglesa e sem os excedentes orçamentais mirabolantes com que se comprometeram a Nova Democracia e o Pasok”.
Um ano depois, o que não mudou foi o regime de controlo de capitais e limites aos levantamentos em dinheiro, a que os gregos já se habituaram. O ministro das Finanças afirma que assim continuará até que regresse a confiança no sistema bancário e o dinheiro que foi levantado durante a crise de 2015.