ONU: Grécia bateu recorde mundial de registos de asilo

Campo de refugiados de Elaionas. Foto Federação Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho.

Entre 6 de junho e 30 de julho, foram pré-registados os pedidos de asilo de 27.592 pessoas. Para o diretor da agência de refugiados da ONU na Grécia, é um novo recorde mundial. O ministro grego para as Migrações alertou para as consequências de um eventual colapso do acordo UE/Turquia.


De acordo com os dados revelados esta semana, o processo de pré-registo dos pedidos de asilo conseguiu chegar em dois meses a cerca de metade do número total de migrantes e refugiados atualmente na Grécia. 57% dos recenseados neste período são do sexo masculino e 46% são crianças, adiantam os dados oficiais. Destas 27.592 pessoas, 54% são oriundas da Síria, 27% do Afeganistão e 13% do Iraque. Mais de 5% são crianças que viajam sem companhia. Phillipe Leclerc, que dirige a agência de refugiados da ONU na Grécia, diz não ter dúvidas de que a rapidez do processo constitui um recorde mundial, a partir da sua experiência em processos semelhantes em todo o mundo.

Para além dos recenseados entre junho e julho, houve mais 5800 pessoas que se registaram antes desse período através do Skype e outros 500 em centros de acolhimento espalhados pelo país. O programa de recolocação de refugiados continua a andar a passo de caracol, com Atenas a afirmar que 7751 pessoas estão prontas a deixar o país no quadro deste programa europeu. Outras 2000 pessoas pediram para regressar ao país de origem, ao abrigo do programa de repatriação voluntária.

Entre 4000 a 6000 refugiados “desapareceram” dos registos

O ministro Yiannis Mouzalas aponta ainda para outro grupo, entre 4000 a 6000 pessoas, que não fizeram o registo do pedido de asilo por se encontrarem em trânsito. “É um feníomeno natural. Uma percentagem foi absorvida pelas comunidades existentes de migrantes, sobretudo do Paquistão e do Afeganistão, outra parte recusou o pré-registo porque esperava que as fronteiras abrissem, outros estavam ausentes e outros estão em alojamentos autogeridos, para além de falhas humanas no processo”, afirmou o ministro à agência ANA-MPA.

Para estas dezenas de milhares de pré-registados, a viagem para a Europa parece não ter fim, com a responsável pelo serviço de asilo a calcular que após as entrevistas necessárias, que serão marcadas nas próximas semanas, o prazo médio de espera por uma resposta ao pedido será de um ano e meio. O aumento do número de pedidos de asilo na Grécia este ano foi de 264% em relação a 2015, um número que não conta com este megaprocesso de registo dos últimos meses.

Grécia alerta para consequências do colapso do acordo UE/Turquia

O ministro das Migrações aproveitou para alertar os jornalistas para as consequências de um eventual colapso do acordo assinado entre a União Europeia e a Turquia, que permitiu estancar a chegada de refugiados às costas das ilhas gregas.

Caso o acordo seja anulado, na sequência do aumento da tensão política após a tentativa falhada de golpe de estado na Turquia, a Grécia pode vir a ter de acolher mais 180 mil refugiados a juntar aos quase 60 mil hoje presentes em campos de refugiados e que não conseguem sair do país devido ao fecho da fronteira terrestre.

Alto Comissário visitou campos de refugiados

Esta semana o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, fez uma visita de três dias à Grécia para se inteirar das condições de acolhimento. “Com a chegada do inverno, ainda há muitos milhares de pessoas a viver em locais que ainda não cumprem os requisitos mínimos”, alertou Grandi.

O Alto Comissário destacou o problema da segurança nestas instalações, tendo visitado dois campos perto de Salónica e um centro para menores desacompanhados. “Há elementos criminosos a infiltrarem-se e a explorarem estas pessoas… a principal resposta passa por ter mais capacidade policial”, defendeu Grandi.

As situações mais graves em termos de segurança estão nas ilhas, onde o desespero aumenta à medida que milhares de pessoas ali chegadas na esperança de rumar ao centro da Europa se apercebem que os meses passam e a probabilidade de chegarem ao seu destino é cada vez mais diminuta. Os relatos de conflitos entre grupos de refugiados, assaltos e violações são comuns em vários campos de refugiados.

Na semana passada, em visita ao centro de Lesbos, o ministro do Interior grego apelou a todas as autarquias do país para que se disponibilizem a acolher uma parte dos refugiados que estão atualmente nas ilhas que têm feito o maior esforço no acolhimento, como é o caso das ilhas de Lesbos, Kos, Quios e Samos.