Metade dos gregos diz que a imprensa é hostil ao governo

Barómetro Public Issue - maio 2015

No barómetro Public Issue publicado esta semana, 49% dos inquiridos considera que os media são hostis ao governo. Esta opinião tem vindo a crescer desde que foi anunciada a intenção de acabar com os privilégios dos oligarcas dos media, que nem sequer pagam pelas licenças de transmissão.

A segunda parte do barómetro Public Issue de maio para o diário Avgi foi publicada esta terça-feira. No que respeita à confiança dos inquiridos nos media gregos, 49% disse que são hostis ao governo, 20% neutrais e 28% favoráveis.

A atitude dos gregos face aos media mudou desde a eleição do governo de Alexis Tsipras. Em fevereiro, o mesmo barómetro registou apenas 25% de opiniões a considerarem os media hostis ao governo e 56% a defender que o favoreciam.

Mas não demorou muito para os cidadãos notarem bem a mudança do tom das notícias. Isso aconteceu depois do anúncio da intenção do governo – repetido este fim de semana pelo primeiro-ministro – de criar regras de transparência no panorama audiovisual e acabar com os privilégios dos oligarcas com interesses noutros setores da economia. Em março a percentagem dos que viam hostilidade nas notícias subiu para 34% e a dos que viam favorecimento caiu para 41%.

No mês passado, o CEO do maior grupo de construção civil grego e filho do oligarca George Bobolas, um dos acionistas da televisão Mega Channel, foi detido por uma dívida de 1.8 milhões ao fisco, relativa a dinheiro escondido na Suíça e revelado na “lista Lagarde”. Acabou por ser libertado no mesmo dia, após pagar a dívida ao Estado.

“Quem tentar pôr ordem nos media, terá de enfrentar os magnatas”, dizia a embaixada dos EUA… em 2006

Em 2006, a embaixada norte-americana em Atenas produziu um documento “sensível, mas não classificado”, intitulado “Como ler a imprensa grega: um guia para leigos”, divulgado em 2011 pela Wikileaks. Embora tenha sido escrito há nove anos, antes da expansão do consumo de notícias na internet, o texto conserva interesse na caracterização dos maiores impérios mediáticos da Grécia:

“A indústria dos media gregos é controlada por magnatas cujos negócios lucrativos cobrem o prejuízo nas operações dos media. Por sua vez, estas operações permitem-lhes exercer influência política e económica.” (…)

(…) “Os media privados de Atenas são detidos por um pequeno grupo de pessoas que fez ou herdou fortunas no transporte marítimo, banca, telecomunicações, desporto, petróleo, seguros, etc, e que ou estão ou estiveram ligadas por sangue, casamento ou adultério com figuras políticas e governamentais e/ou outros magnatas dos media e dos negócios. Por exemplo, o armador e acionista da Mega Channel Vardis Vardinogiannis é o melhor amigo de Christos Lambrakis, dono do “To Vima”, “Ta Nea”, “Athens News” e o portal “in-gr”, e Lambrakis tem contratos de construção civil com o governo. Os dois filhos de Vardinogiannis casaram com as famílias de armadores Goulandris e Nomikos. A sua irmã Eleni é casada com o deputado da Nova Democracia Kefaloyannis, que é conselheiro especial ao primeiro-ministro Karamanlis” (…)

(…) “Mesmo que o governo da Grécia avance com uma nova lei dos media, há algum ceticismo sobre se conseguirá pôr ordem da situação caótica dos media, dado que isso implicaria um confronto com os donos dos media”.(…)