Proposta de acordo acende o debate no Syriza

Alexis Tsipras. Foto Stéphane Burlot. Licença Creative Commons - Atribuição, Não Modificar - Uso Não Comercial)

Se os credores não bloquearem o acordo esta semana com novas exigências, ele terá de ir a votos no parlamento grego até dia 30 de junho. Mas antes disso terá de passar no Comité Central e no grupo parlamentar do Syriza. A única certeza é a de que vozes críticas não irão faltar.

O debate entre os apoiantes do governo e militantes do Syriza sobre as propostas apresentadas ontem pelo governo grego em Bruxelas promete dar que falar nos próximos dias, caso a proposta não sofra o veto do Eurogrupo de quarta-feira ou da cimeira europeia do fim da semana. Ou ainda do FMI, cuja diretora geral não compareceu à habitual conferência de imprensa no fim da reunião que aceitou a proposta grega.

De regresso a Atenas esta terça-feira, Alexis Tsipras informou o líder do parceiro de coligação dos resultados das reuniões de Bruxelas, tendo reunido depois com o secretário-geral do Syriza e o líder parlamentar sobre os próximos passos da semana. E pelo menos dois ministros – Nikos Pappas e Alekos Flambouraris – já avisaram que se o governo perder a maioria no parlamento, seguir-se-ão eleições antecipadas.

Lafazanis: “É preciso acabar com a austeridade, injetar liquidez na economia e abolir a maior parte da dívida”

Na última reunião do Comité Central do Syriza, a 24 de maio, uma proposta apresentada pela Plataforma de Esquerda para romper as negociações foi derrotada por 95 votos contra 75. A Plataforma é liderada pelo ministro da Energia e Reconstrução Produtiva Panagiotis Lafazanis, que esta terça-feira fez uma intervenção pública durante a apresentação de um livro no Sindicato de Jornalistas, sem se referir diretamente às propostas que reentraram na mesa das negociações.

Lafazanis defendeu que “com medidas de austeridade não há futuro” e que a economia grega precisa de “uma forte injeção de liquidez” para um programa alargado de investimento público e para financiar condições favoráveis para o desenvolvimento da Grécia. O ministro defendeu que outro elemento essencial seria a abolição da maior parte da dívida grega.

“A situação grega é o elo mais fraco da Europa”, prosseguiu, defendendo ainda que “um mercado e uma união monetária sob a tutela da Alemanha não pode ter sucesso”, como o prova a recessão e estagnação económica atual, ao mesmo tempo que são destruídas as conquistas sociais. Lafazanis defendeu ainda uma mudança radical num Estado que tem sido dominado por um poder interno dependente do estrangeiro, às vezes até de forma colonial como nos últimos anos de troika em que as instruções aos ministros chegavam por email.

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Lapavitsas: “Espero para ver o que os credores irão fazer”

Numa entrevista televisiva, o economista e deputado do Syriza Costas Lapavitsas afirmou-se “muito preocupado” com o que leu sobre a lista de propostas. “Parece que teremos muitos novos impostos, se bem que tenham natureza redistributiva. Mas não deixam de ser novos impostos… Essas são medidas recessivas”, declarou à CNBC.

“A Grécia precisa de uma mudança radical e é isso que o Syriza a represente. Quanto mais cedo regressarmos aos nossos compromissos e comecemos a implementar as mudanças radicais, melhor”, defendeu Lapavitsas, que tem argumentado a favor das vantagens de uma saída da Grécia da moeda única.

Questionado sobre o sentido do seu voto no parlamento, o economista foi cauteloso. “Vou esperar para ver, estou bastante cético sobre qual será a resposta dos credores. Espero uma resposta dura na quarta-feira”, previu Lapavistas. “E também quero ver o que dirão sobre a dívida. Quando o acordo chegar, veremos o que fazer”, concluiu.

Kouvelakis: “Vamos a tempo de evitar uma nova tragédia grega”

Num apelo publicado na sua página do Facebook, o académico Stathis Kouvelakis teve as palavras mais duras contra a proposta grega para um acordo, considerando-o “um novo plano de austeridade” comparável aos dos anteriores governos.

Kouvelakis apela à mobilização para pressionar o governo e o grupo parlamentar para não aprovarem aquele acordo. “Uma capitulação do governo Syriza teria consequências incalculáveis para as forças progressistas na Europa e no mundo”, defende o professor de Filosofia e Ciência Política no King’s College de Londres, concluindo que “ainda há tempo para evitar uma nova tragédia grega, que será também uma tragédia para todas as forças que lutam e resistem na Europa e no mundo”.

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