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FMI: “Dívida grega é insustentável, mas a culpa não é nossa”

Christine Lagarde e Yanis Varoufakis. Foto União Europeia ©

O relatório ontem divulgado pelo FMI diz que a Grécia precisa de abater mais de 50 mil milhões à sua dívida, pedir mais 36 mil milhões aos credores europeus e começar a pagar só daqui a 20 anos. Mas não admite nenhuma culpa pelos erros das suas previsões acerca do impacto da austeridade. A contestação à política do Fundo para a Grécia já chegou ao Congresso norte-americano.

O relatório sobre a sustentabilidade da dívida grega tem a data de 26 de junho mas só ontem o FMI o divulgou publicamente:

O relatório conclui que a dívida grega é insustentável e que as necessidades de financiamento do país obrigam a um novo empréstimo por parte dos parceiros europeus, que o FMI calcula em 36 mil milhões de euros, para além de um perdão de mais de 50 mil milhões na dívida aos credores europeus.

O Fundo também sugere um período de carência do pagamento da dívida de 20 anos e a extensão das maturidades por 40 anos com desconto nas taxas.

No relatório, não é feita nenhuma referência aos erros do próprio FMI nas previsões acerca dos efeitos da sua receita para a Grécia, que falharam todas. As culpas pela situação são distribuídas pelo governo que chegou há cinco meses e pelos anteriores, com a tónica a recair sobre as receitas das privatizações: enquanto o FMI previa em 2011 receitas de 50 mil milhões com a venda dos bens públicos da Grécia, ela só rendeu 3.5 mil milhões até agora.

Congressistas norte-americanos escrevem a Lagarde

Um grupo de congressistas norte-americanos, acompanhados pelo senador Bernie Sanders, escreveu uma carta à diretora-geral do FMI para expressar o seu descontentamento com a “linha dura” protagonizada pelo Fundo nas negociações com Atenas.

“O povo grego já sofreu um ajustamento muito doloroso nos últimos seis anos”, lembram os congressistas, acrescentando que o país “já levou a cabo muitas das reformas exigidas pelo FMI e os seus credores”. Quanto à insistência do FMI sobre as metas orçamentais de saldos primários de 4%, “são hoje reconhecidas como um erro”, prossegue a carta.

“A Grécia precisa de uma solução que faça da recuperação económica uma prioridade – caso contrário, continuará a cair na mesma armadilha da austeridade, recessão e dívida cada vez mais insustentável”.

No fim da carta, os congressistas lembram as dificuldades que o Fundo tem tido desde 2010 para fazer passar a proposta de reforma da sua governança no Congresso dos EUA, com muitos países a procurarem alternativas ao FMI em instituições que lhes garanta maior representatividade nas votações. “Será difícil conseguir uma maioria no Congresso dos EUA para essas reformas importantes se o FMI for visto como responsável por mais danos à economia grega, bem como pelas consequências imprevisíveis de algum colapso financeiro”, concluem os congressistas, apelando à “flexibilidade” do FMI nas negociações com Atenas.