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Tsipras escolhe ser julgado nas urnas

Tsipras anuncia demissão e concorre a novas eleições.

O primeiro-ministro grego apresentou a demissão no dia em que o país recebeu a primeira tranche do empréstimo. “O mandato de 25 de janeiro está esgotado”, afirmou Tsipras antes de pedir aos eleitores que julguem as suas ações e lhe dêem um novo mandato para renegociar a dívida, combater a corrupção e pôr a economia a crescer.


Alexis Tsipras entregou a sua demissão esta quinta-feira ao Presidente da República, que agora irá pedir aos três maiores grupos parlamentares, um a um, para tentarem formar um governo minoritário. Num cenário de abandono imediato dos deputados do Syriza que não apoiaram o memorando, poderiam formar um grupo parlamentar próprio, mais numeroso que a bancada da Aurora Dourada, pelo que seriam também chamados, em vez dos neonazis, a tentar formar governo.

Segundo a imprensa, a data de 20 de setembro será a preferida de Tsipras para a realização do ato eleitoral. A concretizar-se, a Grécia irá abrir um ciclo de eleições no Sul da Europa, com a Catalunha a ir a votos logo na semana seguinte. Uma semana depois, será Portugal a votar em eleições legislativas. Seguem-se as legislativas espanholas, com data ainda por anunciar.

Tsipras pede maioria clara para evitar o regresso ao dracma ou aos partidos do sistema decadente

“Sinto a obrigação ética e política de deixar as minhas ações ao vosso julgamento: o que foi certo, o que foi errado e o que não foi feito”, afirmou Alexis Tsipras, dizendo-se orgulhoso das negociações duras dos meses deste mandato e repetindo que o acordo com os credores foi o melhor que se podia alcançar e que algum governo alcançou até agora.

Contudo, Tsipras afirmou que não esperava a reação dos governos europeus às propostas que levou às negociações. “A Europa não é a mesma depois destes seis meses”, prosseguiu o primeiro-ministro demissionário, lembrando que a luta do seu governo se tornou numa bandeira das lutas contra a austeridade na Europa.

Para o próximo mandato, Tsipras propõe-se liderar o processo de renegociação da dívida grega, prosseguir as políticas da reforma do Estado e de combate à corrupção e ao poder da oligarquia, para além de prometer minimizar os efeitos da austeridade das políticas do memorando sobre os mais pobres.

Dando como certo que parte do seu partido irá apresentar-se contra ele nas eleições, Tsipras pediu aos eleitores que lhe dêem uma maioria para afastar o que diz ser as duas alternativas ao seu governo: o regresso dos partidos do velho sistema, ou, referindo-se aos dissidentes do Syriza agrupados em torno da Plataforma de Esquerda e à esquerda extraparlamentar, o regresso ao dracma que implicaria um novo e mais duro memorando.

Oposição critica eleições, Plataforma de Esquerda assume que vai concorrer

A reação dos partidos da oposição foi quase unânime nas críticas ao primeiro-ministro. Apenas o líder dos parceiros de governo, Panos Kammenos, se limitou a dizer que os Gregos Indepedentes irão concorrer às eleições e estão prontos a colaborar com Tsipras e o Syriza.

O líder da Nova Democracia, Vangelis Meimarakis, disse que “Tsipras está a fugir dos seus problemas e do fantasma de Lafazanis”, numa referência ao ex-ministro que protagonizou a oposição interna ao terceiro memorando. Meimarakis acrescentou que não irá facilitar a vida ao primeiro-ministro e deverá esgotar os três dias de que dispõe para conversações com vista à formação de um governo minoritário.

Por seu lado, o líder do KKE disse que o partido está sempre preparado para ir a votos. Dimitris Koutsumbas acusou o governo de querer fazer eleições o quanto antes para não dar tempo à oposição e aos seus opositores internos para se organizarem.

Stavros Theodorakis, do Potami, lamentou a demissão do governo, que tinha “a tolerância e o apoio parlamentar de partidos da oposição até a economia estabilizar”. Theodorakis censurou a escolha de Tsipras ao marcar eleições já, “antes que as pessoas percebam o que irão pagar em outubro”, classificando-a de “uma escolha trágica para o país”.

Quem deverá concorrer fora do Syriza são os membros da Plataforma de Esquerda, que em comunicado prometeram levar às urnas a “oposição a todos os memorandos”, acusando Tsipras de ter “enterrado o sonoro ‘Oxi’ do referendo” de 5 de julho. Para além da rotura com o memorando, a Plataforma deverá apresentar como bandeiras eleitorais a anulação da maior parte da dívida do país, graças a um rumo de “soberania e independência nacional”.