Em entrevista à agência Lusa durante a sua passagem por Portugal este fim de semana, o ministro grego defendeu que só os governos de esquerda podem defender salários, pensões e o Estado social.
“Encaro o atual Governo português de uma forma muito positiva. Considero que caminha numa direção positiva, porque penso que será bom para o povo português e também porque será bom para os povos da Europa”, afirmou Euclid Tsakalotos, entrevistado pela agência Lusa.
“E porque tenho o imenso receio que caso não seja a esquerda e o centro-esquerda a proporem políticas económicas e sociais aceites pelos povos europeus, que sejam dirigidas aos seus problemas como salários, pensões, Estado social, existe uma ala direita em ascensão, como se assiste na França, Holanda, Áustria, que é muito perigosa”, acrescentou o ministro e dirigente do Syriza.
Nesta entrevista, o ministro que substituiu Varoufakis no governo de Tsipras reforçou a ideia de que é preciso enfrentar a direita nacionalista que cresce na Europa. “É muito importante que a gente progressista avance com ideias progressistas, políticas práticas sobre como lidar com o sistema de saúde, de educação, como reformar o sistema de pensões, como distribuir os rendimentos, como assegurar que os bancos beneficiam a economia real em vez da especulação”, concluiu o economista grego formado em Oxford.
Falando sobre o terceiro memorando que está a aplicar ao seu país, Tsakalotos afirma que o objetivo é de o incorporar numa “estratégia progressista”, com medidas paralelas que atenuem o impacto social das que o memorando obriga.
“A esquerda tem de trabalhar em conjunto com os movimentos sociais”
O ministro grego sublinhou ainda a importância dos movimentos sociais nas alturas em que as forças progressistas estão no governo. “Sinto existir o perigo que as pessoas progressistas no terreno e os movimentos sociais pensem agora que, por existir um governo progressista, já não é necessário fazer nada”, afirmou, dando o exemplo do seu país.
“A esquerda não pode funcionar assim, tem de trabalhar em conjunto com os movimentos sociais, que não eram apenas movimentos de protesto, porque estão sempre a sugerir formas diferentes de fazer as coisas, ou de olhar para as coisas”, concluiu o ministro grego, dando o exemplo do contributo que podem dar os movimentos ligados à economia social e solidária.
“A direita não necessita, mas a esquerda não pode existir sem essa relação com a sociedade, o processo não está a decorrer como gostaria mas é necessário dar espaço a estas iniciativas. Na política social as pessoas que necessitam de ajuda devem ter uma voz sobre o género de ajuda que querem”, argumenta.
“Os tecnocratas, as forças centristas, apenas dizem que os pobres precisam disto, os doentes daquilo, mas é necessário dialogar com as pessoas, saber os seus problemas porque têm informação que nós não temos, é muito importante a inter-relação entre os movimentos sociais e os governos de esquerda. Repito, os governos de direita não necessitam disso, nós necessitamos”, concluiu.