O infoGrécia reproduz o documento interno do FMI, hoje revelado pelo Channel 4, em que o Fundo admite a impossibilidade da Grécia reembolsar os empréstimos que vencem a partir de agora, caso os credores prossigam o bloqueio ao financiamento do país, em vigor desde agosto de 2014.
O memorando classificado de “estritamente confidencial” partiu do gabinete do diretor executivo do FMI Carlo Cottarelli e resume a informação reportada na quinta-feira ao Conselho Executivo do Fundo sobre o andamento das negociações. O documento repete as queixas apresentadas por Poul Thomsen de que os funcionários deixaram de ter acesso direto aos ministros e acrescenta uma novidade: os enviados do FMI deixaram claro que não informariam a direção do Fundo de nenhuma medida que não tivessem discutido diretamente com um ministro grego.
“A partir de junho e depois em julho e agosto, vencem 11 mil milhões de euros e não haverá nenhuma possibilidade das autoridades gregas reembolsarem essa quantia, a não ser que cheguem a acordo com os seus parceiros internacionais”, prevê o Fundo Monetário Internacional, que em junho teria a receber mais de 1500 milhões de euros.
Confirmam-se as divergências entre os credores da UE e do FMI
Apesar de reconhecer as dificuldades criadas pelo bloqueio ao financiamento da Grécia desde agosto de 2014, o Fundo diz que deixou bem claro que esse financiamento não será desbloqueado antes de haver um acordo ao nível dos funcionários, como foi referido na nota divulgada após a última reunião do Eurogrupo. Quanto à possibilidade de existir o pagamento de pequenas tranches em troca de acordos parciais, em caso de “haver uma luz ao fundo do túnel”, o FMI diz que os europeus estão divididos quanto a essa solução.
O relato corresponde em grande medida à versão apresentada por Alexis Tsipras na conferência da Economist esta sexta feira: houve avanços em matéria de reforma do IVA e da administração fiscal, mas também no capítulo das leis das insolvências. No entanto, o memorando do FMI é mais pessimista que Tsipras quanto a um acordo sobre metas orçamentais, afirmando que não existe ainda acordo sobre a sua revisão. Os pontos da divergência também são comuns: leis laborais, pensões e despedimentos na Função Pública, com o FMI a sublinhar a medida de reintegração dos funcionários públicos despedidos nos últimos anos.
O FMI diz que não pressionou os parceiros europeus para uma restruturação da dívida grega, mas insiste que “os números devem bater certo” para se concretizar um acordo que garanta a sustentabilidade da dívida. Os funcionários deixaram claro que “que existe uma relação inversa entre as reformas e a sustentabilidade” da dívida e que a própria Christine Lagarde sublinhou que o FMI não pode alinhar numa “avaliação rápida e superficial” e deu instruções aos funcionários para seguirem à risca as regras do Fundo. Ou seja, em linha com declarações anteriores de atuais e ex-responsáveis do Fundo, o FMI prevê que a imposição de mais austeridade só contribui para o aumento da dívida e da sua insustentabilidade.