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“O meu ‘crime’ foi enfrentar o Eurogrupo em pé de igualdade”

Varoufakis

O infoGrécia traduz a resposta de Yanis Varoufakis às acusações entregues na justiça grega contra si. As queixas alegam que o ex-ministro prejudicou o país nas negociações com os credores e os autores chegam a pedir condenação por “traição”.


A tentativa bizarra de me verem acusado de… traição, alegadamente por conspirar para pôr a Grécia fora do euro, reflete algo mais vasto.

Reflete um esforço determinado para deslegitimar a nossa negociação ao longo de cinco meses (de 25 de janeiro a 5 de julho) com uma troika indignada por termos a audácia de contrariar a sabedoria e a eficácia do seu programa falhado para a Grécia.

O objetivo dos meus autoproclamados perseguidores é caracterizar a nossa postura negocal desafiadora como uma aberração, um erro, ou, ainda melhor do ponto de vista do sistema oligárquico grego favorável à troika, um “crime” contra o interesse nacional da Grécia.

O meu “crime” vil foi, ao ter expresso a vontade coletiva do nosso governo, o de personificar os pecados de:

– Enfrentar os líderes do Eurogrupo em pé de igualdade, que tem o direito de dizer “NÃO” e apresentar argumentos e análises fortes para rejeitar a absurdidade catastrófica dos empréstimos gigantescos a um estado insolvente sujeito à austeridade contraproducente

– Demonstrar que se pode ser um europeísta convicto, esforçar-se para manter o seu país na zona euro e, ao mesmo tempo, rejeitar as políticas do Eurogrupo que prejudicam a Europa, desconstroem o euro e, decisivamente, aprisionam o seu país na escravidão da dívida guiada pela austeridade

– Fazer planos para as contingências com que os principais colegas do Eurogrupo e altos funcionários da troika me ameaçavam em conversas cara a cara

– Revelar a forma como os anteriores governos gregos transformaram departamentos do governo fundamentais, como a Secretaria Geral da Receita Pública ou o Gabinete Helénico de Estatísticas, em departamentos controlados de facto pela troika e pressionados a cumprir a tarefa de debilitar o governo eleito.

É muito claro que o governo grego tem o dever de recuperar a soberania nacional e democrática sobre todos os departamentos do estado, e em especial os do Ministério das Finanças. Se não o fizer, irá continuar a perder os instrumentos de decisão política que os eleitores esperam que utilize para cumprir o mandato que lhe confiaram.

Nas minhas diligências ministeriais, a minha equipa e eu concebemos métodos inovadores para desenvolver as ferramentas do Ministério das Finanças para lidar eficazmente com a asfixia de liquidez induzida pela troika, enquanto recuperávamos poderes executivos previamente usurpados pela troika com o consentimento dos governos anteriores.

Em vez de acusarem e perseguirem os que, até agora, serviram o setor público como lacaios e lugares-tenentes da troika (enquanto recebiam os seus substanciais salários à custa dos contribuintes gregos em longo sofrimento), políticos e partidos cujo eleitorado os condenou pelos seus esforços em tornar a Grécia num protetorado, vêm agora perseguir-me, ajudados e instigados pelos media dos oligarcas. Envergo as suas acusações como distintivos de honra.

A negociação orgulhosa e honesta que o governo Syriza conduziu desde o primeiro dia em que fomos eleitos já mudou para melhor os debates na Europa. O debate sobre o défice democrático que afeta a Europa é agora imparável. Infelizmente, os membros da claque doméstica da troika parecem não conseguir suportar este sucesso histórico. Os seus esforços para o criminalizar vão embater nos mesmos baixios que arrasaram a propaganda descarada contra o ’Não0 no referendo de 5 de julho: a grande maioria do destemido povo grego.