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Varoufakis: “Como a troika recusou o único corte salarial do meu mandato”

Dijsselbloem e Varoufakis

Em maio, o então ministro das Finanças da Grécia anunciou que ia cortar “simbolicamente” os salários dos administradores do Fundo Helénico de Estabilidade Financeira em 40%, tal como aconteceu à generalidade dos funcionários públicos gregos durante a crise. Esta semana revelou que a troika rejeitou essa medida.

O único corte salarial imposto por Varoufakis no seu mandato, que foi notícia em maio, regressou agora à imprensa. É numa entrevista à revista australiana Monthly que Varoufakis conta a história por detrás desse corte:

O nosso aparelho de Estado foi contaminado pela troika de forma muito, muito grave. Deixe-me dar um exemplo. Há uma coisa chamada Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF). É um fundo que tinha inicialmente 50 mil milhões – quando tomei posse tinha 11 mil milhões – com o propósito de recapitalizar os bancos gregos. Isto é dinheiro que os contribuintes da Grécia pediram emprestado para ajudar os bancos. Eu não nomeei o seu administrador e não tive nenhum papel na forma como tratavam dos seus assuntos face aos bancos gregos. O povo grego que me elegeu não tinha nenhum controlo sobre como era usado o dinheiro que pediu emprestado.

A dada altura descobri que a lei que criou o FHEF me dava um poder, que era o de determinar o salário daquela gente. Eu apercebi-me que os salários daqueles funcionários será gigantesco para o nível da Grécia. Num país com tanta fome e em que o salário mínimo tinha caído para 520 euros por mês, estas pessoas estavam a ganhar cerca de 18 mil euros por mês.

Então decidi, já que podia fazê-lo, exercer esse poder. Usei uma regra muito simples. As pensões e os salários tinham baixado em média 40% desde o início da crise. Emiti uma portaria a reduzir os salários destes funcionários em 40%. Ainda seria um salário enorme, enorme… E sabem o que aconteceu? Recebi uma carta da troika, a dizer que a minha decisão fora recusada por não estar devidamente justificada. Ou seja, num país em que a troika insiste em que as pessoas que ganham 300 euros de pensão passem a ganhar 100 euros, estavam a recusar o meu exercício de corte na despesa, a minha possibilidade enquanto ministro das Finanças em limitar os salários daquelas pessoas.