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Bruxelas e FMI não se entendem e estão a bloquear as negociações

Christine Lagarde e Jeroen Dijsselbloem

O infoGrécia traduz para português a nota oficiosa divulgada hoje pelo governo grego, responsabilizando os representantes dos credores pelo arrastar das negociações em Bruxelas. Enquanto o FMI aceita restruturar a dívida grega e flexibilizar a meta do excedente orçamental primário, pretendendo em vez disso cortar pensões e liberalizar as leis laborais, a Comissão Europeia defende o inverso.

* Tradução infoGrécia, a partir da versão inglesa, publicada no Greek Analyst.


Nota Oficiosa do Governo Grego sobre as Negociações

1. Divergências e contradições graves entre o FMI e a UE estão a levantar obstáculos nas negociações, para além de acarretarem elevados riscos. Embora o principal argumento das instituições, até há pouco tempo, fosse o de que a Grécia não teria feito propostas completas, é agora evidente que essas propostas foram apresentadas e que continham concessões substancias rumo a um «compromisso honrado»,

2. Porém, a discrepância na estratégia das instituições está a levantar obstáculos.

– O FMI coloca a linha vermelha nas reformas, sobretudo nas que dizem respeito às pensões e ao trabalho, e tem uma posição mais suave quanto ao défice primário. Subjacente à posição do FMI está o cancelamento de parte da dívida, de forma a torná-la sustentável.

– Pelo contrário, a linha vermelha da Comissão Europeia está, precisamente, no défice primário, e, consequentemente, na impossibilidade de cortar na dívida. Quanto às reformas mais duras, como as que afetam as pensões e as relações de trabalho, tem uma posição menos rígida.

3. O resultado é este: em conjunto, as instituições colocam linhas vermelhas em todas as áreas: reformas das pensões e no trabalho (FMI) e défice primário (CE). Nestas circunstâncias, é impossível haver compromisso. A responsabilidade é única e exclusivamente das instituições, e da incapacidade de comunicarem entre si.

4. Ao tomar consciência desta contradição insanável, o governo grego decidiu tomar a iniciativa de:

– Não levar [a votação] ao parlamento o pacote legislativo antes de existir um potencial acordo.

– Colocar em cima da mesa a discussão do «dia seguinte», isto é, o plano de saída [do país] para se financiar nos mercados e conseguir crescimento a seguir a junho.

5. A edição de hoje do FT [Financial Times] põe a nu a contradição nas estratégias da Zona Euro e do FMI (ver artigo de Peter Spiegel). O FT revela que o chefe do Departamento Europeu do FMI, Poul Thomsen, avisou os ministros das finanças da Zona Euro de que «é possível que o FMI retire a sua quota da tranche de 7,2 mil milhões de euros» se «não aceitarem anular uma parte significativa da dívida grega». P. Spiegel faz notar que «a Zona Euro, que detém a maior parte da dívida grega, opõe-se firmemente à [ideia de] redução da dívida.»

6. Simultaneamente, o Comissário Europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Fiscalidade e União Aduaneira, Pierre Moscovici, confirmou a existência de contradições entre a CE e o FMI, declarando que a questão da dívida «só pode ser discutida depois de haver acordo sobre um programa de reformas». Estamos perante uma divergência estratégica, com a Grécia no epicentro, que prejudica seriamente o país.